quarta-feira, novembro 29, 2006


NICODEMOS

ouve um tempo, entre os anos 1950 e 1985 – com auge seu no final dos anos setenta, do século XX – que a chegada dos últimos dias do mês de novembro trazia um certo frisson ao ar da velha cidade do São Salvador da Bahia de Todos os Santos. O populacho, a intelectualidade, os povos do Senhor e os adeptos da religiosidade afro-brasileira entravam num processo de êxtase. Os problemas entravam em recesso e era o início da suprema alegria e da baianidade. Estava aberto, com a chegada do Dia de São Nicodemus, o ciclo de festas populares – ou as chamadas festas de largo – em que multidões, até depois do Carnaval (suprema data) cantavam, tocavam, dançavam, bebiam, comiam e namoravam a se fartar. Tudo em homenagem a São Nicodemus, Santa Bárbara, Santa Luzia, Bom Jesus dos Navegantes, Senhor do Bonfim, Reis Magos e Iemanjá. Depois era esperar o Carnaval chegar, pois era o ápice do lado pagão do povo baiano. A partir de 1990, alguns antropólogos dizem que pelo recrudescimento da violência urbana, as festas de largo foram perdendo força e apelo popular. Viraram palco de consumo exacerbado de drogas, e do desforço físico, entre os jovens. Com a violência as famílias deixaram de participar e o que se viu, a partir deste período, é a decadência das famosas festas em que se cotejava o lado religioso e o profano, numa harmonia somente vista na Bahia.
São Nicodemus tem sua data de veneração como 29 de de novembro. Na Bahia sua devoção está centrada totalmente entre os trabalhadores do Porto de Salvador, que este ano decidiram fazer a festa, a missa e a procissão no dia 27.
Hoje a festa fica apenas por conta deles e não há mais a presença da população. Com o ataque terrorista islâmico às torres gêmeas de Nova Iorque, no dia 11 de setembro de 2001, a Companhia Docas da Bahia passou a cumprir determinações internacionais de não permitir a presença da massa em suas dependências. É preciso identificação e controle de quem vai se regozijar com o santo. A juventude sequer lembra que as festas de largo estão começando. O interessante é que os festejos a São Nicodemus, com isso, passaram a ter o mesmo perfil do início de tudo. Ficou restrito aos trabalhadores do cais.
Como surgiu a veneração a São Nicodemus, no Porto de Salvador é um debate que pode varar uma noite. Alguns dos antigos dizem que por volta de 1940, uma mulher chamada Cotinha, trabalhadora do Cais do Carvão, colocava as pedras num balaio quando encontrou, enegrecida de fuligem, a imagem em terracota de São Nicodemus. Outra versão dá conta que em 1942 ou no ano seguinte, algumas pessoas que brincavam de fazer imagens com barro, na ponta do cais, onde paravam os vapores e os saveiros, batizaram uma delas como Nicodemus. Foram atrás de um santeiro chamado Vicente, que trabalhava na ladeira do Taboão que finalizou a imagem. Ela foi então levada para ser batizada na Igreja de Nossa Senhora do Pilar. Daí levaram para o porto e iniciaram a tradição de rezar pela imagem e fazer procissão todo dia 29 de novembro, com a participação dos estivadores.
Virou tradição e a celebração também é conhecida como Festa do Cachimbo porque o organizador (Cirilo de Nicodemus) tinha o hábito de caminhar pelo cais com um cachimbo oferecido por uma empresa inglesa, para a qual ele trabalhava. Cirilo determinou que cada participante da festa recebesse um cachimbo de lembrança, o que tornou o objeto símbolo da comemoração. São Nicodemus também passou a ser conhecido como o “santo do cachimbo”. Os festejos começaram em 1943, mas só na década de 80 a missa passou a ser celebrada na capela construída para o protetor no Cais do Carvão. Antes, as orações ocorriam na Igreja de Nossa Senhora do Pilar e a imagem de Nicodemus ficava protegida na sede da estiva, atrás do Mercado do Ouro.
Uma outra versão mostra que nem tudo foi fácil para São Nicodemus. O processo que resultou na sua escolha como padroeiro dos doqueiros envolve premonições, sonhos, mensagens do além e outros mecanismos de comunicação. 1941 no Cáis do Carvão e, para passar o tempo, fazia-se modelagens com o barro da ponta do píer. O mais idoso dos companheiros, Cirilo Manoel dos Reis, deu o nome de Nicodemus para uma das imagens que na verdade era um monte de barro amassado. Parece que o santo não gostou e apareceu em sonhos pedindo mais respeito. Temeroso ele procurou o santeiro que fez uma imagem conforme sonhara (um velho branco, calvo, barba longa e com um bastão). Em sinal de respeito à imagem foi levada para a igreja de Santa Luzia e benzida e desde então recebe, todos os anos, as mais respeitosas homenagens dos baianos. São Nicodemus foi um membro do Sanhedrin em Israel durante a vida de Jesus. O Sanhedrin seria o Supremo Conselho e a mais alta Corte de Justiça dos Judeus em Jerusalém, que procurava condenar Jesus. Todo membro do Sanhedrin que tivesse simpatia por Jesus era considerado pelos seus colegas um traidor. Mesmo sendo membro, Nicodemus tinha grande admiração por Jesus.
Ele era um discípulo secreto de Cristo e certa vez marcou encontro escondido, à noite, para evitar ser punido pelos outros membros do Sanhedrin. Depois disse para a Corte que Jesus deveria ser ouvido. Em uma ocasião Nicodemus confessou que acreditava em Jesus dizendo: “Nós sabemos que Você é um professor e ninguém tem esses sinais a não ser que Deus esteja com ele”. Jesus ensinou a ele acerca do renascer através do Espírito Santo e do Batismo. Teve o privilegio de preparar o corpo de Jesus com babosa e mirra e o colocou no Santo Sepulcro. A tradição diz que ele foi um mártir, mas os detalhes de seu martírio não sobreviveram ao tempo. Nicodemos quer dizer “vitória do povo”.

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terça-feira, novembro 21, 2006


PARA ENTENDER POLÍTICA

ão meros 18 dias em que o Brasil ético ficou abismado com o resultado das eleições para presidente da República, senadores e deputados federais. Foi uma luta de idéias e ideais como não se via desde os tempos do primeiro mandato de Getúlio Vargas. O chamado povão que habita os grotões da região Nordeste, beneficiado pelo bolsa-família (um salário pago mensalmente pelo Governo Federal a título de combater a fome nas regiões mais pobres) se colocou a favor da reeleição do presidente Lula, apesar de todas as denúncias e evidências de roubo, corrupção e outros crimes de igual teor praticados debaixo de sua barba. O povo pobre do sertão, com a massa mais pobre das capitais nordestinas acreditou piamente que Luís Inácio Lula da Silva não sabia de nada. Que foi traído por ministros, assessores e colaboradores diretos que tinham acesso irrestrito ao seu gabinete de trabalho; eram companheiros de viagens e freqüentavam a churrascada em sua casa, o Palácio da Alvorada. Enquanto parcela da população mais esclarecida do Sul e Sudeste rejeitava Lula, os nordestinos o elegiam. Até mesmo o PT - Partido dos Trabalhadores, envolvido na maior série de escândalos jamais vista na História do Brasil, foi contemplado com os votos do povão, que não entendeu o que estava acontecendo e se fortaleceu.
Alguns analistas chegaram a dizer e a publicar que os pobres sabiam o que ocorria nos bastidores de Brasília e nas bocas dos caixas dos bancos, por onde escorriam rios de dinheiro para a compra de votos dos deputados (aliás, a bem dizer, uma prática nefasta de todos os presidentes que passaram pelo Palácio do Planalto, mas que nunca foi tão escancarado e incisivo como desta vez). Mas os pobres estavam, pela primeira vez, vendo pingar a parte deles, todo mês, sem precisar sequer pegar na enxada, na colher-de-pau, na caneta BIC de tinta azul, na pá, na trena, no ancinho; sem necessitar acordar cedo para enfrentar o sol causticante do Quijingue, Orós, Picos e Terra Caída, apenas para citar alguns dos mais de 700 municípios que ficam no Polígono da Seca.
Sabemos que o povo preferia que fossem criados empregos. Já que não tem emprego, que venha a grana de onde vier. Não que o povo, como disseram vários articulista de revistas, queira mesmo é fazer parte do butim. O povo não é besta, mas como brasileiro já tem uma tendência a querer se dar bem, como na Lei de Gerson (aquele que gostava de levar vantagem em tudo) ou dar um jeitinho, melhor votar em quem rouba, mas faz barulho e cara de honesto apesar dos flagrantes, como foi o caso da volta à política, como senador da República, do ex-presidente Fernando Collor de Mello. Ele é aquele que sofreu impeachment por causa de corrupção e desvio de dinheiro do orçamento da União. O povo votou também no ex-ministro Palocci, que dentre outras acusações está a de ter quebrado o sigilo bancário de um caseiro, um homem do povo. Mas, quem disse que o povão é solidário com o povão? Parece coisa de torcida de futebol. Vejamos o exemplo: a torcida do Esporte Clube Vitória é forte. Mas, quem vai ao estádio presencia a briga entre facções. Cada uma querendo engolir a outra. O objetivo é apoiar o time. Mas, subliminarmente um grupo quer ter reconhecimento como força estimuladora em detrimento do outro. Voltando ao tema, outros políticos acusados de corrupção voltaram ao Congresso Nacional, a exemplo do Jader Barbalho, do Pará e Ibsen Pinheiro, do Rio Grande do Sul.
Política é um termo amplo que passa até pela atitude de se manter um relacionamento amoroso, a exemplo da política do fazer de conta que a mulher manda ou o inverso, somente para não se aborrecer ou acabar com o casamento. Quando um soldado abaixa a cabeça para o oficial, mesmo tendo razão, está aplicando uma política de respeito à hierarquia. O mesmo ocorre quando você na escola tem de engolir uma nota injusta naquela prova ou com o trabalhador que não levanta a voz para o chefe, neste caso sendo uma política de preservação do emprego.
Mas política pode significar também desde esperteza à ciência de governar. A tradição filosófica revela que são três os principais conceitos:
A – Doutrina da Moral e do Direito;
B – Teoria do Estado;
C – Ciência de governar.
No Brasil não existe uma filosofia por parte dos políticos, seja ele do PFL que ao longo dos tempos fez o papel de representante das oligarquias em detrimento das chamadas camadas populares; seja do PMDB que também agiu historicamente como clientelista, justamente por ter em suas hostes políticos oriundos da esquerda e da direita, ou mesmo do PSDB que se caracterizou como um partido das elites intelectualizadas com uma visão cruel de economia de mercado em detrimento da política social.
O que se viu nas últimas eleições foi uma nova postura para a velha política nefasta de rebanho.
Pelo menos desta vez o rebanho tem garantido sua ração.

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sexta-feira, novembro 17, 2006


POMBO SEM ASAS

ue me perdoe o ministro da Defesa, Waldir Pires, mas achar natural que mais da metade dos vôos atrasem nos aeroportos brasileiros não é nada normal, como ele garante. O ministro está perdido. Avoando, como se diz no sertão. Deu pena quando ele – repetindo o presidente Lula – disse na origem do problema, que não sabia de nada; que o pessoal da Aeronáutica não tinha avisado, que não tinha visto nada. Só faltou dizer – para virar clone do presidente – que mandaria a Polícia Federal apurar, punir e prender as aeronaves, caso fosse verdade que elas não estavam saindo no horário. Bastava ligar para qualquer empresa aérea e saberia do problema.
Pergunto: como é que Waldir Pires foi entrar numa fria destas? Sua biografia não precisava disso. Ele não precisava mais se misturar com ninguém. O ministro poderia ser hoje, caso respeitasse o seu currículo, uma referência institucional, ética e moral. Mas, deixou-se levar. Podem dizer que ele acreditou num projeto que repensaria o país e foi dar um pouco de sua boa vontade. Mas, e depois que viu que não era nada daquilo que esperava? Será que, desde então, ele não sabia o que estava acontecendo dentro do partido. Até Roberto Jefferson sabia e depois delatou. Todos os políticos de Brasília sabiam de tudo e não revelavam o assunto ou por medo de retaliação do governo, ou por não terem provas ou por estarem se locupletando.
Faço este desabafo porque respeito Waldir Pires e acho que sua biografia não merece este capítulo – que vou considerar como um hiato ou um buraco negro em sua história. Posso dar, sim, um puxão de orelha no ministro, pelo fato de ser seu fã de carteirinha. Desde que voltou do exílio que acompanho sua trajetória, como um admirador que fica extasiado com seu ídolo. Tenho medo de que o que era êxtase (excitação, emoção, adrenalina), venha se transformar em extase (estado de absoluta inércia, sedação, frustração).
Tenho uma história com Waldir, unilateral, sem ter tido nunca a necessidade de uma aproximação, embora eu tenha trabalhado com a equipe que montara para dirigir o Instituto de Radiodifusão Educativa da Bahia – Irdeb, durante o seu curto governo e, posteriormente, de forma fugaz, na gestão daquele que ele passou a faixa de governador. Lembro que estive perto de ser linchado quando da sua campanha para governador. Aquela que ele ganhou enfrentando Josaphat Marinho. Para mim foi um drama, tanto votar, como atuar como repórter político da Tribuna da Bahia, que me contratara para acompanhar o dia-a-dia do professor Josaphat, por quem eu tinha ampla admiração e era um excelente interlocutor e uma pessoa a quem eu recorria quando tinha alguma dúvida dentro de sua área de atuação. Minha consciência doía por não apoiar Josaphat. Ocorre que eu achava que era tempo de um desagravo para Waldir Pires e, durante uma cobertura jornalística no comitê de Josaphat, no final da avenida Centenário, alguém lembrou que eu tinha escrito sobre isso numa das edições deste jornal e que, portanto, eu estaria ali como infiltrado. Eram mais de cem cabos eleitorais, admiradores e funcionários do comitê que estavam ali avaliando os números do Ibope que no dia anterior estava dando larga vantagem para Waldir Pires. Fui cercado e recebi chutes, tapas e empurrões e a situação não piorou porque fui salvo por um assessor de Josaphat de nome Juvenal (que hoje atua na prefeitura de Acajutiba, onde, por coincidência o ministro nasceu). Foi ele quem controlou, do alto da escada que dava acesso ao primeiro andar, a turma raivosa.
Não estou cobrando de Waldir Pires os tabefes que levei em seu santo nome, principalmente porque ele não me pediu para ser herói ou vítima. Estou apenas dizendo para ele sair deste esparro onde está metido. Ele é uma história viva. Sua trajetória merece respeito histórico. Como dizia minha avó, sua avó e a avó dele: “Quem com porcos anda, farelo come”.
Para falar a verdade o ministro, na Defesa, está parecendo pombo sem uma asa. Voa, mas não tem direção.

Atenção: Vulgar – Brincando de Sexo & Outras Bobagens - no final do mês.

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segunda-feira, novembro 13, 2006


MEU PRIMEIRO POST

omente a velharia, como a Igreja Católica Apostólica e Romana não gostou de padre Pinto com maquiagem e fazendo a festa ficar renovada na Lapinha.
Um festejo decadente que serve apenas para uma parcela da juventude local ir tomar uma biritas nas barracas. Sequer esta gente liga, ou se lembra de dar o primeiro gole para o santo, pois até este ritual caiu em desuso na Bahia.
Achei padre Pinto um entusiasta. Um padre que quer renovação para o decrépito comportamento da Igreja. Sem querer fazer, mas fazendo um trocadilho, padre Pinto estava tão à vontade, tem tanto amor pelo que faz, que parecia na Festa dos Reis Magos um pinto no lixo.
Muito boa sua atuação, e dom Geraldo Magella diz que foi piração e mandou o homem para o psiquiatra, como ator.
Ele verdadeiramente entrou em transe quando incorporou Oxum – e olha que dançou direitinho e estava tão bonito que o orixá baixou. Quando fez a homenagem aos pajés, parecia até que tinha tomado Santo Daime ou cauim. Um primor. Desde que me conheço como gente que não vejo uma Lapinha tão animada e não venha você me dizer que o padre estava parecendo drag queen, pois isto é o menos relevante. Importante é ver que a Igreja Católica passa mesmo por uma crise sem precedentes. Tudo que é novo, cria polêmica ou atrai fiéis, ela rejeita. Suas lideranças parecem querer destruir de vez com a instituição.
Vejamos: padre Marcelo, aquele que vende milhares de discos recebeu reprimenda até do Vaticano. Queria calar o moço que cantava seus louvores a Deus. Dom Gilio, que buscou caminhos de integração para chamar a comunidade afro-descendente para suas hostes, foi jogado ao léu, mandado para os confins da Bahia – ele que veio do Rio Grande do Sul onde já era um problema por causa de suas idéias liberais, negro que é, e nem sei por onde anda.
Lembro de um caso de amor da comunidade por seu ministro. Nos anos 60 do século passado havia um padre na Igreja da Boa Viagem (acho que o nome dele era Hugo Rossi ou Rossini, algo assim) que era adorado pelos jovens e repudiado pelos mais velhos. Ele bebia, fumava, tomava banho de mar de calção, numa época em que padre não tirava o hábito nem pra ir a banheiro, jogava futebol, comia bem descaradamente e dizem as más línguas, ainda dava uma paquerada, pois ninguém é de ferro e até Jesus namorou e dizem alguns historiadores que casou e teve filhos. Pois não é que o padre foi mandado de volta para a Itália, de onde viera? Toda minha turma de coroinha, a partir daí, decidiu dar um basta. Fomos embora. Igreja nunca mais. Acabaram com nosso ídolo que sentava conosco depois da missa para um papo (falávamos de Deus, sim senhora) e um violão.
O que a Igreja gosta mesmo é dos poderosos. Sempre foi assim. Sempre uma simbiose com os coronéis, com os políticos, com quem oferecia benesses e boa mesa. Por ver na Igreja Católica um fausto portentoso, um falso falar macio e uma total sinergia com Deus é que o povão faz hoje da Igreja Evangélica um caminho e tome esta Igreja crescer, mesmo se sabendo que se trata também de mera exploração da fé.
O que a Igreja Católica (que um amigo filósofo trata de Igreja Caótica) gosta mesmo, é de um papa que manda os seus seguidores ao risco de pegar Aids e não respeita as diferenças sexuais tratando os homossexuais como cidadãos e fiéis de segunda classe. Ou gosta mesmo de bispos e arcebispos que passam esmalte incolor e fazem as cutículas e andam com seus clergimans impecáveis, como se fossem galãs de Hollywood, nas áreas onde o povo anda de chinelo e sapato furado. Ou que são retrógrados quando preferem ver seus acólitos penando pela morte ou sofrimento de parentes ao uso da terapia das células-tronco.
Este negócio de querer rotular as pessoas de enlouquecidos, quando atrapalham seus interesses, incomodam por suas posições políticas, comportamentais ou filosóficas é típico da Igreja Católica. Não vamos nem falar em Galileu. Vamos mais perto. Quando dom Avelar Brandão Vilela era vivo, ele teve um arranca-rabo com um jornalista da Tribuna da Bahia e enviou uma carta para o editor-chefe recomendando que internasse o rapaz, pois este deveria estar com esgotamento nervoso. O editor, que era o escritor João Ubaldo Ribeiro, escreveu um artigo que encerrava assim: “O senhor cuida do seu rebanho que cuido do meu!”.
Pois, quero padre Pinto.
Quero dom Gílio.
Quero padre Hugo.
Quero aquele padre que fez greve de fome contra a transposição do São Francisco e que esqueci o nome.
Quero frei Beto.
Quero Leonardo Boff.
Quero dom Jerônimo.
Quero Gregório de Mattos e Guerra.
Quero que Deus castigue os obscurantistas.


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O MESMO QUE ZIDANE

ane-se o mundo. Para Zidane dar uma cabeçada daquelas, num final de uma Copa do Mundo, coisa que poderia melar para sempre sua imagem como craque equilibrado, só mesmo ouvindo o que não queria. Ao contrário do que os críticos disseram e os jornais publicaram apenas porque estão com raiva dele por ter jogado maravilhosamente contra o Brasil * deu de calcanhar, mandou chapéu, driblou e fez o que quis com nossos jogadores * Zidane fez certo. Tem horas que boa educação e boa índole nada valem. Tem de dar porrada mesmo. E conhecendo os italianos como conheço, tinha de dar chute nas partes baixas e comer as orelhas. Pode observar nos noticiários dos jornais que de cada ocorrência nas delegacias envolvendo estrangeiros, setenta por cento tem a presença de italianos. Os caras são complicados.
Enquanto argentino torra o saco achando que são melhores, mais bem educados, mais ricos e mais bonitos e que ainda jogam barbaridade mais que nós, os italianos chegam como quem não quer nada.
Como estão cheios de euros, mesmo a maioria sendo formada por taxistas romanos, trabalhadores da Fiat ou donos de botecos na Piazza Auxiliatrice, encostam nos portos e aeroportos baianos e vão logo querendo saber onde conseguir meninas novas e de preferência mulatas e onde tem apartamento barato para comprar, de preferência na Orla. Alguns partem para visitar Morro de São Paulo e Porto Seguro e fincam o pé por lá. Como são turistas de baixo estrato social e educacional, mesmo para os padrões europeus, terminam por se envolver em casos, algumas vezes bizarro. Conheço algumas histórias, como a de um italiano que mora colado a uma delegacia, num dos bairros de Salvador e que partiu para pegar a empregada dentro da delegacia, na maior ousadia, depois que ela foi dar queixa de abuso e de ameaça de morte. O cara foi preso e como era estrangeiro logo libertado e o advogado que foi liberar o danado ainda ouviu esbregue por ter demorado.
Outro chegou como turista, engravidou uma garota de 14 anos e ao invés de ir preso conseguiu casar com a garota pobre do subúrbio e ainda ganhou direito à morar por aqui. Comprou uma cobertura grande num bairro conhecido da Orla Marítima e para desespero dos outros moradores fez uma obra transformando a cobertura numa pensão para italianos que ele recepciona em Salvador. No lugar da cobertura ele montou cinco pequenos apartamentos. A polícia nem o síndico podem fazer alguma coisa, pois embora saibam que as pessoas que vão lá são hóspedes, ele diz que são convidados. As porradas que acontecem em Porto Seguro e boa parte das ações da Polícia Federal, envolvem italianos que se escondem nas praias, montam pousadas, restaurantes, barracas de praia. Como os caras conseguem ficar por aqui é um mistério.Outro dia uma família estava atrás de um motorista de ônibus italiano que estava fora do seu país há mais de três anos. Cataram, cataram e o acharam como próspero comerciante em Eunápolis. Deu trabalho repatriar o cara. Isso se ele já não deu um jeito de voltar por Foz de Iguaçu.Mas também, para não ser injusto, tenho de reconhecer que por seus envolvimentos com prostitutas, muitos italianos sofrem na Bahia. Lembra do caso de um deles que ano passado levou para o apartamento uma linda morena, que na verdade era linda mas não era morena, era moreno? O traveca aplicou-lhe um reconfortante “Boa noite Cinderela” com tanta pílula para dormir que o homem dormiu três dias. Quando acordou tinham levado tudo da sua casa. Pior é que cada italiano que vem e volta, pelas facilidades que encontra, manda mais um monte. E haja problema.
Zidane me lembrou que devo dar uma marrada num vizinho italiano porcalhão, chato e barulhento. Chega de aceitar provocações destes mafiosos. E minha vizinha ainda o defende, dizendo que ele é um chato, mas “é tão bonitinho...tem um nariz de ator de cinema...bundinha durinha e um sotaque de arrepiar”.

Acho que vou dar uma porrada nela também.

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MELHORES DE 2005

ATENÇÃO - ESTA LISTA FOI FEITA NO FINAL DO ANO PASSADO!
SERÁ REVISADA EM BREVE



ecidi que seria melhor fazer uma lista daquilo - daqueles - daquelas coisas (gente e coisas - nunca entendi esta palavra coisas) que conseguirão continuar numa boa neste ano novo, depois de romper (lá nele) nova barreira:

Jantar: não sendo na casa da sogra...
Amigo: aquele que não pedir dinheiro emprestao ou roubar minha mulher
Time: ahá! Você pensou no Bahia mas é o Ypiranga
Namorada: Sonia Braga com 18 aninhos [se bem que agora toda plastificada, quem sabe?]
Melhor trio sertanejo: Lula, Hugo Chaves e Bush [nada mudou ...]
Homem mais elegante: dom Geraldo Majella
Homem mais liberal: dom Geraldo Majella
Homem de visão: dom Geraldo Majella
Melhor que dom Geraldo Majella: o papa alemão
Melhor prato: fundo e que não seja de plástico e ainda velha preferencialmente lavado
Mulher mais elegante: as soldados da PM
Sonho de consumo: dentes para comer carne
Sonho a se realizar: compra carne
Fato mais importante: aprendi a dizer cabeleireiro e não cabelelero (ou será que é o contrário?)

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O COTÓ A MOÇA DO BACALHAU E A CEGA

imagens me impressionaram nos últimos dias.
A do pescador que mesmo sem braço conseguia pescar de bomba acendendo o pavio com a boca e dando chute na dita cuja para atingir os cardumes. Fiquei pensando que o cara é um herói, embora a Polícia Federal e o Ibama o tratem como bandido. Também pensei que o cara é corajoso, pois se a bomba explodir na hora do chute a la Roberto Carlos ele perde os pés. Fica sem as mãos e sem os pés. Vai acender o pavio com o quê? Não responda, viu seu desbocado! Explico porque acho o cara um herói.
Para um homem ser pescador profissional artesanal, sem a logística, os equipamentos de última geração e o acesso do seu produto ao mercado, como contam os pescadores japoneses, coreanos, portugueses, espanhóis e os da Europa Oriental e que ainda têm suas traineiras e navios subsidiados pelos respectivos governos, é que não contou com apoio de ninguém para poder estudar e melhorar de vida. Sair da vidinha que levava o seu pai, seu avô e que deixaram como legado para sobrevivência. Com certeza ele não optou ser pescador de bomba - sabendo do perigo que representa acender e arremessar dinamite, já que o acidente de trabalho tem como conseqüência perda de membros e ninguém gosta de correr risco. Foi o destino e foram as autoridades governamentais que não deram outros caminhos. Não deram estudo. Não deram apoio social. Não deram salários dignos. Não deram remédio nos postos. Não deram direito à moradia. Não deram direito à Justiça. O que fazer para alimentar a família? Pescar de bomba, lógico, pois em menos tempo pega-se mais peixe e a renda aumenta para os barrigudinhos que esperam à mesa, que também seguem os passos do pai e sofrem o descaso oficial.
A pergunta nada hipócrita que pode ser feita é se a vida humana é inferior ao ecossistema marinho. Quem é prioritário para a morte? O homem por inanição ou os corais bombardeados? Existe, sim, uma coisa chamada cadeia alimentar. Quem está no topo muitas das vezes não tem muito a escolher. Que me perdoem os siris, as pititingas e os plânctons.

Outra imagem que me chamou a atenção foi a das duas mulheres presas quando roubavam bacalhau num supermercado. Elas chegaram, disfarçaram, pegaram o bacalhau e enfiaram embaixo das pernas, lá onde o bacalhau é mal lavado. Saíram andando numa boa mas os seguranças desconfiaram. Um repórter perguntou o motivo de terem roubado o peixe. Elas disseram que era preciso ter alguma coisa para a Sexta-feira Santa das crianças. Não tinham dinheiro e não queriam frustrar os filhos. O repórter perguntou porque roubar especificamente bacalhau, quando poderiam levar outro tipo de peixe. Disseram que as crianças, de tanto ouvirem falar nas TVs e verem receitas de bacalhau queriam porque queriam comer bacalhau. E lá foram elas, mulheres paupérrimas que até para comprar pão é dia sim, dia não, querendo oferecer o que havia de melhor para a ceia da Sexta da Paixão. Nem Deus ajudou. Foram presas e os meninos ficaram sem bacalhau.
Num país de mensalão estas mulheres merecem ou não a prisão? Responda você.

Já a cega, êta cega danada de sábia. Ela estava pedindo dinheiro na Avenida Sete e um homem saindo da agência do Banco do Brasil deu-lhe duas notas de cinqüenta reais, dizendo que ela saísse da chuva e fosse embora. O homem, sabendo-a cega, disse o valor que estava dando e pediu para guardar bem as notas.
O que ela fez? Devolveu uma nota dizendo que era muito e que mesmo cinqüenta reais ainda era demais. Estava acostumada a ter apenas um pouco a cada dia. O repórter de uma rádio estava por coincidência junto na hora e perguntou à mulher porque não ficou com o dinheiro todo e gastava um pouco a cada dia. Ela na maior singeleza disse que nunca tinha ganho tanto dinheiro na vida e que muito dinheiro pode trazer infelicidade.
Falar o quê meu rei?

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DINO BRASIL, SODRÉ e OUTROS LADRÕES

stava tudo preparado para ser o show de Caetano Veloso, Maria Bethânia, Adriana Calcanhoto, Margareth Menezes e Guilherme Arantes. A Concha Acústica do Teatro Castro Alves cheia, apinhada, tomada como há muito tempo não se via, no evento chamado de “Noite de Santo Amaro”. Aquela em que o professor, comunicador e compositor Jorge Portugal apresenta de forma mais emocionada que padre Pinto em missa na Lapinha, e onde todo mundo dá loas à dona Canô – até que merecida – por ser a mãe de Caetano e Bethânia e mãe de toda uma geração de artistas santamarenses, alguns bons e outros muitos ruins, mas que fazem parte do séqüito da família Veloso. Fazer o quê, disgrama? A vida é assim mesmo e melhor ajudar a quem nos admira, e por que não, quem nos puxa o saco.
Sem sacanagem, dona Canô tem todo um trabalho social lá dos altos dos seus quase 100 anos e que viva muito. Os cambistas se deram bem. Não comprei na mão deles, não por achar que não se deve comprar em mãos de cambista. Quem quiser que faça como eles e acorde cedo. Ou então pague o preço do cara ter ficado na fila de Sua Nota é Um Show (ou seria Vale um Show?). Não comprei, pois meu amigo Luis Cláudio Garrido me deu ingresso para a arquibancada. Se bem que poderia ter-me dado camarote, mesmo que fosse para ficar fora do camarote, pois não tenho mais idade de descer aquele esparro cheio de buracos, lixo e passeios deslizantes – verdadeira quebra-bunda – que é a Ladeira da Fonte, o que, aliás, a Prefeitura Municipal devia dar um jeito; mas sei que Lula fez o que pôde e agradeço. Também foi bom, pois encontrei depois de longo tempo Theodomiro Queiroz, diretor do TCA, que nem me reconheceu, tão diferente que devo estar. Passei pelo jornalista Carlos Ribas, que também olhou, mas não me viu. Fiquei preocupado. Devo estar ectoplasma.
Mas, vamos voltar ao tema. Pois eu não sabia que Dino Brasil estava no show, tanto que momento antes tinha mandado recado para ele, por mera coincidência. Tudo seguia no mais absoluto tédio típico do Recôncavo Baiano quando entra o moço.
Calça de brim. Camisa de casimira, sapato mais lustroso que cabeça de pinto e gravata. Disse para minha companhia: - É o Dino! O que ele veio fazer tão fatiotado?(Eu que estou acostumado a vê-lo de sunga no Porto da Barra). Pois não é que Dino arrasou cantando como nunca e dando um baile, dançando, coreografando? O público veio abaixo. Show de bola. Dino despertou a galera e foi o mais aplaudido dentre todos. Roubou a cena. Nova surpresa: me aparece Raimundo Sodré, mais um “ladrão”, que apesar de prejudicado pelo som abaixo do razoável para os padrões do evento grandioso, fez com o público o que quis. Mandou cantar: o povo cantou. Mandou dançar: todo mundo dançou. E tome bis na melhor tradição do samba local. Roubou a cena e foi embora.
E foi isso que fui ver. O espetáculo prossegue, cai de qualidade de novo e aproveito para apreciar a bela estrutura da Concha Acústica. Muito moderna, embora eu tenha ficado preocupado já que percebi que armengaram o toldo que cobre o palco. Parece que o vento rasgou as presilhas que prendem a lona ao arco com cabos de aço e fizeram algo que espero seja provisório. Aliás, quero sugerir ao pessoal que administra a Concha, que mande colocar placas indicando onde estão as escadas. Quando fica cheio o pessoal se perde e quer descer pelos lances da arquibancada. Como o show estava ficando chato e até Magareth Menezes apareceu para cantar axé babaca, pude viajar no tempo e lembrar shows memoráveis que vivenciei naquele lugar. Como aquele que consagrou “Os Mutantes”. Era tanta gente querendo entrar que foi preciso chamar a polícia. E esta já chegou batendo.
Uma hippie grávida, ao meu lado, levou uma porrada na barriga e caiu. Foi um trabalhão dar socorro no meio do corre-corre. Naquele tempo não tinha esse negócio de Direitos Humanos, não! A polícia fazia o que queria e ficava por isso mesmo. Outro grande momento foi quando Caetano Veloso voltou do exílio “voluntário”. A Concha cheia para dar as boas vindas e de repente uns caras contratados pelo sistema para bagunçar o coreto começou a vaiar os trejeitos de Caetano, e este, bobinho, caiu na armadilha, xingou todo mundo; lançou gestos obscenos e foi em cana. É muita história. Desta vez, entretanto, dona Canô disse que Caetano não iria aparecer, pois tinha nascido Rosa, sua neta (dele). Foi uma consternação, já que durante toda semana anunciou-se Caetano e Bethânia e Adriana e Mabel e Calcanhoto e outros. O povo chiou. Uma senhora sentada no cimento ainda quente do inclemente sol de Verão que bateu a tarde toda desabafou:
- Zorra! Será que Caetano foi dar mama no peito para a netinha? Vim aqui so para vê-lo.
Ela se mandou. Foi seu erro. Se tivesse ficado teria apreciado mais um “ladrão” de show. Jerônimo chegou para também roubar a cena. Entrou com trombone e tudo e emocionou a platéia.
Somente esta galera para compensar o 171 que foram Caetano e Bethânia
e o escorregão que levei na ladeira e quase quebro a bunda.

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