domingo, junho 22, 2008


A cultura baiana indo para o ralo

 

 

 

Jolivaldo Freitas

 

 

Deveria ser preocupação de todos os baianos o futuro da nossa cultura. Não estou falando de Axé, pagode ou Rock, que são perenes, dentro do seu nicho de interessados; e muito menos do folclore para atrair turistas. Digo da cultura que envolve as artes plásticas, o teatro, a música erudita e a literatura. O problema é que os principais intelectuais e artistas, que moldaram o perfil da baianidade, estão indo para outra dimensão.

     Com a perda de Jorge Amado, Carybé, Calazans Neto, Smetak, Lindenberg Cardoso, Glauber Rocha, Leão Rosemberg e outros, e com o encanecer de personagens como Dorival Caymmi, a Bahia vive hoje a perspectiva de contar apenas, para se situar no panteão da cultura brasileira, apenas com Caetano, Gil, João Gilberto e mais um punhado. É pouco. E não representa o que se produz em termos culturais pela Bahia. É uma dependência nefasta e temos de implorar aos céus para que tenham vida longa.

     Pode-se dizer que a Bahia não tem novos elementos que possam representar seu status cultural? Claro que não. Aqui se produz. Temos pessoas elaborando excelentes trabalhos em artes plásticas, literatura, música erudita, música popular, cinema, vídeo e fotografia. Então qual o motivo delas não serem conhecidas, como o foram os grandes criadores surgidos a partir da metade do século passado?

      A questão é que, antes, os midiáticos tinham compromisso com a cultura baiana. Exportávamos não só atores, mas criadores, diretores, pintores, tapeceiros, músicos e escritores. Hoje o que se vê é a absoluta falta de compromisso com a cultura local, com raras exceções. Daí que não se vê nos programas de jornalismo/entretenimento, as exposições de arte, por exemplo. As TVs, veículos de maior penetração, não criam ícones culturais, nem mesmo na Axé. Quando o artista fica famoso, por um motivo ou outro, aí sim, ganha espaço.

   Mesmo as boas iniciativas das empresas que apóiam a cultura, ficam a dever. Não têm cobertura (eu não lembro de nenhum escritor que tenha ganhado um prêmio e sido entrevistado num programa). Por falta de um marketing agressivo entregam o prêmio e tudo acabou por aí. Falta massificar o nome do ganhador e capitalizar com isso. O cara ganha e volta ao ostracismo.

      Com isso não criamos novos nomes. O povo, mesmo a parte culta da população, não conhece quem cria, escreve ou produz. E temos verdadeiros gênios em todas as áreas. A  Bahia é um dos três estados brasileiros onde se produz mais e onde a cultura tem relevância. Mas, não podemos culpar apenas a mídia eletrônica. Se nossos famosos escritores e músicos tivessem a generosidade de Jorge Amado, que usava da fama para ajudar a quem tinha qualidade, com certeza nossos campos seriam mais floridos. Lembrando que cada vez que a mídia deixa de revelar talentos, está perdendo personagens, até mesmo para sua própria degustação.

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Inverno começa mais frio e chuvoso

O inverno começa nesta sexta-feira (20) e a tendência climática para os próximos três meses em todo o estado é que as temperaturas devem ficar de um a dois graus abaixo da média histórica nos meses de julho, agosto e setembro.

Já as chuvas para esse período têm uma probabilidade de 75% de serem acima da média histórica a normais na faixa litorânea do estado, o que inclui as regiões do Recôncavo (Salvador e RMS), nordeste, sul e faixa centro-leste da Chapada Diamantina. Na faixa litorânea, para esse período, as chuvas serão mais freqüentes à noite e nas primeiras horas da manhã.

A tendência climática foi divulgada ontem (18) pelo Instituto de Gestão das Águas e Clima (Ingá), antiga Superintendência de Recursos Hídricos, autarquia da Secretaria do Meio Ambiente. Ela foi elaborada na VII Reunião de Análise e Previsão Climática para a Região Nordeste do Brasil, com a presença de meteorologistas de todo o país e do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.

Segundo o meteorologista do Centro Estadual de Meteorologia do Instituto de Gestão das Águas e Clima (Cemba/Ingá), Heráclio Alves, o inverno começa mais frio, "como já era esperado para essa época do ano. Já as chuvas são muito bem-vindas, porque se inicia agora no estado o principal período agrícola do ano, principalmente nas regiões nordeste e do Recôncavo Norte".

Apesar do frio típico de inverno, as temperaturas devem se manter elevadas durante o dia, caindo à noite e na madrugada. A média histórica dos últimos 10 anos das temperaturas para a faixa leste (litorânea) da Bahia para o próximo trimestre é de 25 graus e para o estado como um todo é de 22,5 graus.

A média das temperaturas mínimas é de 17,3 graus, com picos de até nove graus na Chapada Diamantina e sudoeste, e a das temperaturas máximas é de 28,5 graus, com picos de 34 graus (regiões oeste, norte e do São Francisco).

Mesmo com as temperaturas bem frias em algumas regiões e bem quentes em outras e com o incremento da probabilidade das chuvas, Alves informou que essa condição é considerada normal para essa época do ano, devido às condições mais favoráveis do Oceano Atlântico Sul. "As águas estão 0,5 graus mais quentes, o que influencia a ocorrência de chuvas na faixa leste do Nordeste brasileiro, o que, associado à umidade trazida pelos ventos marítimos, provoca a ocorrência de chuvas", disse.

O meteorologista alerta para o início da temporada de queimadas nas regiões oeste, norte e do São Francisco, por causa das temperaturas elevadas e da redução da umidade relativa do ar.

 

Média histórica

 

A média histórica das chuvas na faixa leste do estado em julho, agosto e setembro é de 250 a 400 milímetros por mês. Nessa faixa estão incluídas as regiões do Recôncavo, nordeste e sul da Bahia, além da faixa centro-leste da Chapada Diamantina.

"O principal período chuvoso dessas regiões é de abril a agosto. Então, estamos dentro do período chuvoso da região litorânea, sendo que os meses de maio e junho são os mais chuvosos", afirmou Alves. Ele destacou que as precipitações devem ocorrer um pouco acima desse valor no próximo trimestre e que os maiores volumes sempre aparecem nas localidades mais próximas do litoral.

 

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sábado, junho 14, 2008


artigo

O LADO POSITIVO

 

Artur Salles Lisboa de Oliveira

 

Antes de avaliar a polêmica declaração do coordenador Antônio Natalino Dantas, coordenador do curso de medicina da Universidade Federal da Bahia, é preciso fazer duas ponderações: primeiro, que é um absurdo relacionar o coeficiente de inteligência de qualquer indivíduo à cor de sua pele; segundo, que é necessário distinguir os conceitos de inteligência e cultura, já que é absolutamente possível uma pessoa ser pouco culta – principalmente no contexto baiano extremamente desigual e excludente - e ao mesmo tempo demonstrar um potencial de aprendizado bastante elevado nas mais variadas áreas do saber. Portanto, a menção ao QI baiano é, além de preconceituoso, conceitualmente equivocado.

 

Antônio Natalino expõe de forma bastante crua uma realidade que muitos concordam, mas hesitam em colocá-la em pauta. Seu erro está na confusão entre cultura e inteligência e no ataque estapafúrdio ao legado afro-descendente presente na Bahia. O coordenador esquece que a musicalidade do Olodum – grupo reconhecido internacionalmente, inclusive – não está condicionada a agradá-lo e muito menos os inventores do berimbau o criaram para torná-lo um modelo de sofisticação musical. Porém, apesar de preconceituosa, a declaração do coordenador do curso de medicina da UFBA levanta questões importantes no contexto baiano.

 

No programa "Que Venha o Povo", exibido no dia 2 de Maio, o apresentador Casemiro Neto afirmou concordar em parte com Antônio Natalino Dantas na medida em que se observa o quanto os baianos são mal-educados no trânsito, no atendimento em restaurantes e em outros setores de serviços, além da quantidade de manifestações musicais de baixo nível que se perpetuam no contexto do Carnaval. Casemiro lembrou que a terra é pródiga em cultura, a exemplo de Gal Costa, Jorge Amado, João Gilberto, dentre outros, mas que é necessário aos baianos a autocrítica necessária para que reflitamos sobre inúmeros problemas existentes no estado. Infelizmente, o governador do Estado, Jacques Wagner, limitou-se a dizer que o coordenador teve um 'surto de imbecilidade'.

 

Creio que Antônio Natalino baseou-se em algo para questionar – jamais a capacidade intelectual dos baianos -, mas sim a qualidade do ensino da supramencionada instituição. Talvez o sistema de cotas; eventualmente um boicote dos estudantes. O importante é que os baianos percebam o quanto essa saturação musical vem construindo em âmbito nacional uma imagem de preguiçosos, acomodados, dentre outras coisas, tão amplamente abordada em programas de humor. O Carnaval é parte de nossa cultura, sim, mas a Bahia vai muito além da musicalidade de Ivete Sangalo e Durval Lelys. Enquanto o estado for sinônimo apenas de festa, o coordenador da UFBA terá – exceto pelo preconceito – muita razão no que afirmou.

 

 

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ARTIGO

Desespero e enturmação

 

Jolivaldo Freitas

 

Ainda tem eco o artigo que escrevi recentemente neste espaço, denunciando a atitude relapsa dos professores, a falta de metodologia e qualificação das escolas particulares e públicas, e a qualidade do ensino na Bahia, o que vem fortalecendo a cada dia a indústria do reforço escolar. Ou seja: as escolas viraram fábricas e no último estágio da linha de montagem está a "banca". Uma saída "redentora" para o aluno tentar aprender o que a escola normal deveria ensinar.

    Das várias correspondências que recebi, com escolas e professores bufando, xingando, dando razão, mandando procurar minha turma ou uma "banca", duas chamou minha atenção. Primeiro a da professora Rosana, de uma escola municipal da Fazenda Coutos. Lá é complicado lutar contra a cultura da violência - da guerra do tráfico. "Não é fácil num ambiente onde traficante é visto como um rei", escreve, ressaltando que os alunos questionam se vale mesmo a pena estudar, já que o pai trafica drogas e tem dinheiro para comprar automóveis luxuosos. Enquanto isso o professor anda de ônibus.

     Já a professora Joelma Resende Gondim, que faz pós-graduação, observa que é difícil, mesmo para quem é qualificado, realizar um trabalho a contento. Mesmo assim, com todas as dificuldades, a escola em que ensina vem desenvolvendo atividades com muita qualidade. Tem salas cheias, o calor é intenso, falta material didático, a carga de trabalho é extenuante e não tem estrutura (alguns livros chegam a ser inadequados). Ela defende os colegas e critica a falta de compromisso do Governo com a educação de qualidade. E desabafa:

- Estou cansada de ser taxada de incompetente e descompromissada. Não agüento mais ser culpada por algo que não é só culpa nossa. É simplista demais colocar a culpa do caos da educação no professor.

       Mas, acho que meu artigo foi pertinente. Agora mesmo os alunos estão iniciando uma luta contra o que a Secretaria de Educação do Estado classifica de "enturmação". Que é transferir, em pleno meado do ano letivo alunos de uma sala para outra, para adequação. Ocorre que cada sala terá entre 45 e 60 alunos. Tudo bem que tem aluno que desde o início do ano não viu a lousa. Mas, qual professor vai oferecer ensino de qualidade para uma multidão? A confusão é tão grande que, enquanto se adequa, tem professor de várias unidades sendo devolvido para a Secretaria de Educação.

    As professoras Rosane e Joelma pedem ajuda para o que consideram como uma verdadeira luta em prol da Educação no nosso país. Os alunos querem que o governo reveja a "enturmação". Acho que os casos citados acima dão excelentes temas. O email do primeiro caso é rosanapedagoga@bol.com.br. O da outra professora é joelmargondim@hotmail.com. A "enturmação" pode ser abordada no Colégio Luiz Viana Filho, por exemplo.

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terça-feira, junho 10, 2008


ARTIGO

A cultura baiana indo para o ralo

 

 

Jolivaldo Freitas

 

 

Deveria ser preocupação de todos os baianos o futuro da nossa cultura. Não estou falando de Axé, pagode ou Rock, que são perenes, dentro do seu nicho de interessados; e muito menos do folclore para atrair turistas. Digo da cultura que envolve as artes plásticas, o teatro, a música erudita e a literatura. O problema é que os principais intelectuais e artistas, que moldaram o perfil da baianidade, estão indo para outra dimensão.

     Com a perda de Jorge Amado, Carybé, Calazans Neto, Smetak, Lindenberg Cardoso, Glauber Rocha, Leão Rosemberg e outros, e com o encanecer de personagens como Dorival Caymmi, a Bahia vive hoje a perspectiva de contar apenas, para se situar no panteão da cultura brasileira, apenas com Caetano, Gil, João Gilberto e mais um punhado. É pouco. E não representa o que se produz em termos culturais pela Bahia. É uma dependência nefasta e temos de implorar aos céus para que tenham vida longa.

     Pode-se dizer que a Bahia não tem novos elementos que possam representar seu status cultural? Claro que não. Aqui se produz. Temos pessoas elaborando excelentes trabalhos em artes plásticas, literatura, música erudita, música popular, cinema, vídeo e fotografia. Então qual o motivo delas não serem conhecidas, como o foram os grandes criadores surgidos a partir da metade do século passado?

      A questão é que, antes, os midiáticos tinham compromisso com a cultura baiana. Exportávamos não só atores, mas criadores, diretores, pintores, tapeceiros, músicos e escritores. Hoje o que se vê é a absoluta falta de compromisso com a cultura local, com raras exceções. Daí que não se vê nos programas de jornalismo/entretenimento, as exposições de arte, por exemplo. As TVs, veículos de maior penetração, não criam ícones culturais, nem mesmo na Axé. Quando o artista fica famoso, por um motivo ou outro, aí sim, ganha espaço.

   Mesmo as boas iniciativas das empresas que apóiam a cultura, ficam a dever. Não têm cobertura (eu não lembro de nenhum escritor que tenha ganhado um prêmio e sido entrevistado num programa). Por falta de um marketing agressivo entregam o prêmio e tudo acabou por aí. Falta massificar o nome do ganhador e capitalizar com isso. O cara ganha e volta ao ostracismo.

      Com isso não criamos novos nomes. O povo, mesmo a parte culta da população, não conhece quem cria, escreve ou produz. E temos verdadeiros gênios em todas as áreas. A  Bahia é um dos três estados brasileiros onde se produz mais e onde a cultura tem relevância. Mas, não podemos culpar apenas a mídia eletrônica. Se nossos famosos escritores e músicos tivessem a generosidade de Jorge Amado, que usava da fama para ajudar a quem tinha qualidade, com certeza nossos campos seriam mais floridos. Lembrando que cada vez que a mídia deixa de revelar talentos, está perdendo personagens, até mesmo para sua própria degustação.

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Publicado originalmente em A Tarde - Página de Opinião

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