sábado, junho 14, 2008


ARTIGO

Desespero e enturmação

 

Jolivaldo Freitas

 

Ainda tem eco o artigo que escrevi recentemente neste espaço, denunciando a atitude relapsa dos professores, a falta de metodologia e qualificação das escolas particulares e públicas, e a qualidade do ensino na Bahia, o que vem fortalecendo a cada dia a indústria do reforço escolar. Ou seja: as escolas viraram fábricas e no último estágio da linha de montagem está a "banca". Uma saída "redentora" para o aluno tentar aprender o que a escola normal deveria ensinar.

    Das várias correspondências que recebi, com escolas e professores bufando, xingando, dando razão, mandando procurar minha turma ou uma "banca", duas chamou minha atenção. Primeiro a da professora Rosana, de uma escola municipal da Fazenda Coutos. Lá é complicado lutar contra a cultura da violência - da guerra do tráfico. "Não é fácil num ambiente onde traficante é visto como um rei", escreve, ressaltando que os alunos questionam se vale mesmo a pena estudar, já que o pai trafica drogas e tem dinheiro para comprar automóveis luxuosos. Enquanto isso o professor anda de ônibus.

     Já a professora Joelma Resende Gondim, que faz pós-graduação, observa que é difícil, mesmo para quem é qualificado, realizar um trabalho a contento. Mesmo assim, com todas as dificuldades, a escola em que ensina vem desenvolvendo atividades com muita qualidade. Tem salas cheias, o calor é intenso, falta material didático, a carga de trabalho é extenuante e não tem estrutura (alguns livros chegam a ser inadequados). Ela defende os colegas e critica a falta de compromisso do Governo com a educação de qualidade. E desabafa:

- Estou cansada de ser taxada de incompetente e descompromissada. Não agüento mais ser culpada por algo que não é só culpa nossa. É simplista demais colocar a culpa do caos da educação no professor.

       Mas, acho que meu artigo foi pertinente. Agora mesmo os alunos estão iniciando uma luta contra o que a Secretaria de Educação do Estado classifica de "enturmação". Que é transferir, em pleno meado do ano letivo alunos de uma sala para outra, para adequação. Ocorre que cada sala terá entre 45 e 60 alunos. Tudo bem que tem aluno que desde o início do ano não viu a lousa. Mas, qual professor vai oferecer ensino de qualidade para uma multidão? A confusão é tão grande que, enquanto se adequa, tem professor de várias unidades sendo devolvido para a Secretaria de Educação.

    As professoras Rosane e Joelma pedem ajuda para o que consideram como uma verdadeira luta em prol da Educação no nosso país. Os alunos querem que o governo reveja a "enturmação". Acho que os casos citados acima dão excelentes temas. O email do primeiro caso é rosanapedagoga@bol.com.br. O da outra professora é joelmargondim@hotmail.com. A "enturmação" pode ser abordada no Colégio Luiz Viana Filho, por exemplo.

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