sábado, junho 14, 2008


artigo

O LADO POSITIVO

 

Artur Salles Lisboa de Oliveira

 

Antes de avaliar a polêmica declaração do coordenador Antônio Natalino Dantas, coordenador do curso de medicina da Universidade Federal da Bahia, é preciso fazer duas ponderações: primeiro, que é um absurdo relacionar o coeficiente de inteligência de qualquer indivíduo à cor de sua pele; segundo, que é necessário distinguir os conceitos de inteligência e cultura, já que é absolutamente possível uma pessoa ser pouco culta – principalmente no contexto baiano extremamente desigual e excludente - e ao mesmo tempo demonstrar um potencial de aprendizado bastante elevado nas mais variadas áreas do saber. Portanto, a menção ao QI baiano é, além de preconceituoso, conceitualmente equivocado.

 

Antônio Natalino expõe de forma bastante crua uma realidade que muitos concordam, mas hesitam em colocá-la em pauta. Seu erro está na confusão entre cultura e inteligência e no ataque estapafúrdio ao legado afro-descendente presente na Bahia. O coordenador esquece que a musicalidade do Olodum – grupo reconhecido internacionalmente, inclusive – não está condicionada a agradá-lo e muito menos os inventores do berimbau o criaram para torná-lo um modelo de sofisticação musical. Porém, apesar de preconceituosa, a declaração do coordenador do curso de medicina da UFBA levanta questões importantes no contexto baiano.

 

No programa "Que Venha o Povo", exibido no dia 2 de Maio, o apresentador Casemiro Neto afirmou concordar em parte com Antônio Natalino Dantas na medida em que se observa o quanto os baianos são mal-educados no trânsito, no atendimento em restaurantes e em outros setores de serviços, além da quantidade de manifestações musicais de baixo nível que se perpetuam no contexto do Carnaval. Casemiro lembrou que a terra é pródiga em cultura, a exemplo de Gal Costa, Jorge Amado, João Gilberto, dentre outros, mas que é necessário aos baianos a autocrítica necessária para que reflitamos sobre inúmeros problemas existentes no estado. Infelizmente, o governador do Estado, Jacques Wagner, limitou-se a dizer que o coordenador teve um 'surto de imbecilidade'.

 

Creio que Antônio Natalino baseou-se em algo para questionar – jamais a capacidade intelectual dos baianos -, mas sim a qualidade do ensino da supramencionada instituição. Talvez o sistema de cotas; eventualmente um boicote dos estudantes. O importante é que os baianos percebam o quanto essa saturação musical vem construindo em âmbito nacional uma imagem de preguiçosos, acomodados, dentre outras coisas, tão amplamente abordada em programas de humor. O Carnaval é parte de nossa cultura, sim, mas a Bahia vai muito além da musicalidade de Ivete Sangalo e Durval Lelys. Enquanto o estado for sinônimo apenas de festa, o coordenador da UFBA terá – exceto pelo preconceito – muita razão no que afirmou.

 

 

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1 Comments:

At 11:12 AM, Anonymous Anônimo said...

muito bom seu blog abracos

 

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