segunda-feira, novembro 13, 2006


DINO BRASIL, SODRÉ e OUTROS LADRÕES

stava tudo preparado para ser o show de Caetano Veloso, Maria Bethânia, Adriana Calcanhoto, Margareth Menezes e Guilherme Arantes. A Concha Acústica do Teatro Castro Alves cheia, apinhada, tomada como há muito tempo não se via, no evento chamado de “Noite de Santo Amaro”. Aquela em que o professor, comunicador e compositor Jorge Portugal apresenta de forma mais emocionada que padre Pinto em missa na Lapinha, e onde todo mundo dá loas à dona Canô – até que merecida – por ser a mãe de Caetano e Bethânia e mãe de toda uma geração de artistas santamarenses, alguns bons e outros muitos ruins, mas que fazem parte do séqüito da família Veloso. Fazer o quê, disgrama? A vida é assim mesmo e melhor ajudar a quem nos admira, e por que não, quem nos puxa o saco.
Sem sacanagem, dona Canô tem todo um trabalho social lá dos altos dos seus quase 100 anos e que viva muito. Os cambistas se deram bem. Não comprei na mão deles, não por achar que não se deve comprar em mãos de cambista. Quem quiser que faça como eles e acorde cedo. Ou então pague o preço do cara ter ficado na fila de Sua Nota é Um Show (ou seria Vale um Show?). Não comprei, pois meu amigo Luis Cláudio Garrido me deu ingresso para a arquibancada. Se bem que poderia ter-me dado camarote, mesmo que fosse para ficar fora do camarote, pois não tenho mais idade de descer aquele esparro cheio de buracos, lixo e passeios deslizantes – verdadeira quebra-bunda – que é a Ladeira da Fonte, o que, aliás, a Prefeitura Municipal devia dar um jeito; mas sei que Lula fez o que pôde e agradeço. Também foi bom, pois encontrei depois de longo tempo Theodomiro Queiroz, diretor do TCA, que nem me reconheceu, tão diferente que devo estar. Passei pelo jornalista Carlos Ribas, que também olhou, mas não me viu. Fiquei preocupado. Devo estar ectoplasma.
Mas, vamos voltar ao tema. Pois eu não sabia que Dino Brasil estava no show, tanto que momento antes tinha mandado recado para ele, por mera coincidência. Tudo seguia no mais absoluto tédio típico do Recôncavo Baiano quando entra o moço.
Calça de brim. Camisa de casimira, sapato mais lustroso que cabeça de pinto e gravata. Disse para minha companhia: - É o Dino! O que ele veio fazer tão fatiotado?(Eu que estou acostumado a vê-lo de sunga no Porto da Barra). Pois não é que Dino arrasou cantando como nunca e dando um baile, dançando, coreografando? O público veio abaixo. Show de bola. Dino despertou a galera e foi o mais aplaudido dentre todos. Roubou a cena. Nova surpresa: me aparece Raimundo Sodré, mais um “ladrão”, que apesar de prejudicado pelo som abaixo do razoável para os padrões do evento grandioso, fez com o público o que quis. Mandou cantar: o povo cantou. Mandou dançar: todo mundo dançou. E tome bis na melhor tradição do samba local. Roubou a cena e foi embora.
E foi isso que fui ver. O espetáculo prossegue, cai de qualidade de novo e aproveito para apreciar a bela estrutura da Concha Acústica. Muito moderna, embora eu tenha ficado preocupado já que percebi que armengaram o toldo que cobre o palco. Parece que o vento rasgou as presilhas que prendem a lona ao arco com cabos de aço e fizeram algo que espero seja provisório. Aliás, quero sugerir ao pessoal que administra a Concha, que mande colocar placas indicando onde estão as escadas. Quando fica cheio o pessoal se perde e quer descer pelos lances da arquibancada. Como o show estava ficando chato e até Magareth Menezes apareceu para cantar axé babaca, pude viajar no tempo e lembrar shows memoráveis que vivenciei naquele lugar. Como aquele que consagrou “Os Mutantes”. Era tanta gente querendo entrar que foi preciso chamar a polícia. E esta já chegou batendo.
Uma hippie grávida, ao meu lado, levou uma porrada na barriga e caiu. Foi um trabalhão dar socorro no meio do corre-corre. Naquele tempo não tinha esse negócio de Direitos Humanos, não! A polícia fazia o que queria e ficava por isso mesmo. Outro grande momento foi quando Caetano Veloso voltou do exílio “voluntário”. A Concha cheia para dar as boas vindas e de repente uns caras contratados pelo sistema para bagunçar o coreto começou a vaiar os trejeitos de Caetano, e este, bobinho, caiu na armadilha, xingou todo mundo; lançou gestos obscenos e foi em cana. É muita história. Desta vez, entretanto, dona Canô disse que Caetano não iria aparecer, pois tinha nascido Rosa, sua neta (dele). Foi uma consternação, já que durante toda semana anunciou-se Caetano e Bethânia e Adriana e Mabel e Calcanhoto e outros. O povo chiou. Uma senhora sentada no cimento ainda quente do inclemente sol de Verão que bateu a tarde toda desabafou:
- Zorra! Será que Caetano foi dar mama no peito para a netinha? Vim aqui so para vê-lo.
Ela se mandou. Foi seu erro. Se tivesse ficado teria apreciado mais um “ladrão” de show. Jerônimo chegou para também roubar a cena. Entrou com trombone e tudo e emocionou a platéia.
Somente esta galera para compensar o 171 que foram Caetano e Bethânia
e o escorregão que levei na ladeira e quase quebro a bunda.

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1 Comments:

At 2:12 AM, Blogger Denis said...

Também não te vi lá ...

 

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