UM NATAL INESQUECÍVEL
baiano não sabe mesmo comemorar o Natal. Vivenciar o espírito natalino somente no Sul do Brasil. Lá sim, dá gosto apreciar as decorações. E não estou nem falando da cidade de Gramado que se volta para estes festejos desde o mês de novembro e vai até janeiro. Uma cidade em festa de cores, luzes e música em cada esquina. Digo mesmo das casas mais suntuosas às mais humildes, que preparam e exibem suas guirlandas, árvores e pisca-pisca. Por nossas bandas o mais dedicado aos festejos de fim de ano acha que basta comprar um fio cheio de luzes e arrumar de qualquer jeito na janela que está tudo bem. O que se vê pelas fachadas são toscos arranjos. Uma parte em cima, outra parte embaixo, um cordão aceso e outro com as luzes apagadas. Os mais criativos ainda tentam fazer desenhos, como de um pinheiro ou do gorro de Papai Noel, mas a maioria coloca as lâmpadas como se tivesse fazendo uma obrigação com desprazer. Melhor deixar sem luz.
Também, excetuando-se o centro da cidade onde, todo Natal, alguma novidade, por mais ínfima que seja, é exposto ao público, nada de mais há para ver. O Dique do Tororó recebe algumas lindas árvores natalinas feitas de luzes, numa combinação chamativa, mas o entorno dele fica parecendo mesmo boca de pobre. Cheio de vazio.
Todo ano, justamente por ser o Natal, minha época preferida, critico a falta de criatividade do pessoal da Prefeitura. Mas é que lembro de uma festa de Natal de antigamente, onde o que não faltou foi criatividade para o pessoal lá da Península Itapagipana.
Na época não tinha nada disso dessas luzes importadas que brilham, piscam e somente faltam fazer acrobacia. As lâmpadas eram de todas as cores, graúdas e os arranjos eram feitos manualmente para serem colocados ao redor da árvore. Todo mundo fazia um presépio e a disputa entre as casas era para ver quem fazia o mais bonito. Naquele ano seu Antonio Surdo, que os meninos chamavam de Antonio Ô! (porque a gente gritava para ele assim: Ô! Ta ouvindo seo Antooonho? estava em dificuldades. Pela primeira vez o presépio principal, da praça, não poderia ser elaborado, pois faltava o barro que era transformado em cavalos, carneiros, vacas, bodes, pássaros, estrelas, manjedoura, menino Jesus, Reis Magos e os pais de Cristo.
Várias pessoas saíram em busca do barro especial que virava cerâmica e arte nas mãos de seo Antonio e não conseguia nem no subúrbio da cidade. Isso porque o saveiro que trazia o barro lá do Paraguaçu tinha virado. Era uma tristeza só.
Até que aconteceu um milagre. Uma caçamba que levava barro para uma obra no Bonfim quebrou o eixo lá na Boa Viagem. Para fazer o conserto era preciso jogar fora a carga. Na véspera de Natal todos os vizinhos largaram seus afazeres para cessar o barro; pisar o barro; amassar o barro enquanto seu Antonio Ô! Ia fazendo os bonecos. Foi o maior e mais bonito presépio que a cidade já viu.
Hoje não dá mais para se ter milagres, pois os supermercados e lojas importam os objetos da China e da Coréia. Tudo a R$ 1,99. Até seu Antonio, se vivo fosse, iria preferir comprar pronto.
...Joli
uem viu o que foi a festa em louvor a Nossa Senhora da Conceição da Praia – na sexta-feira passada - não pode medir o que era sua imponência até o último quarto do século passado. No século XVI era motivo para mostrar brasileiros e portugueses com suas mais ricas fatiotas; e as moças iam à busca dos futuros maridos. No século XX era o grande start para a lúdica diversão, que levaria um ciclo de três meses, das festas de largo. Quem este ano, achando que iria encontrar uma multidão alegre, muita capoeira, manifestações do folclore regional ou uma gastronomia de dar inveja a Baco, deus pagão, greco-romano, quedou-se ao olhar perdido e o ócio da maioria dos barraqueiros que apostaram na revitalização da festa de largo e empataram o investimento. Não foi ainda desta vez que voltou o brilho.
s festejos em homenagem a Santa Bárbara - que nem a Igreja Católica e muito menos os afro-religiosos gostam que digam que é sincrética a Iansã -, mudaram muito desde o final do século passado. Agora não tem mais um grande percentual de participação popular profana, e perdeu o ânimo de uma festa que, depois de São Nicodemus (este reverenciado pelos estivadores no dia 29 de novembro), seria aquela que deflagraria o Ciclo de Festas Populares da Bahia.
AQUI TEM
ACABEI DE FALAR

MEUS LIVROS
SÍTIOS

RECADERIA
Já vai ???

