sexta-feira, janeiro 16, 2009


Do Blog de Aninha Franco

 

As lamúrias da cidade da Baía

 

Aninha Franco

Milagres, eu conheço poucos: a 9ª Sinfonia criada por um homem surdo; o Moisés de Michelangelo que mora na igreja de San Pietro in Vincola (Roma); o poema Divina Comédia de Dante Alighieri, inventor do idioma italiano; Os Sertões de Euclides da Cunha, delator de que a guerra era genocídio; Os 120 dias de Sodoma do Marquês de Sade, ficção da inclinação humana; e mais um punhado (pequeno) de outros, porque o resto é resultado do trabalho duro a que fomos condenados desde a farra da maça. Sem trabalho, nada prospera. E sem cobrança, não há trabalho. Como existem milhares de funcionários contratados pelos 36 por cento de impostos recolhidos, compulsoriamente, das nossas folhas, bolsas, carteiras e trousses, é passada a hora de cobrar pelo trabalho, aproveitando o começo do ano. A cidade está lamurienta, é o que eu ouço, vejo, percebo, e, ao contrário de há 40 anos, quando o AI-5 não deixava, e, ao contrário de há 20 anos, quando essa relação quase sexual entre os veículos de comunicação e os seus consumidores nem era sonhada, agora tem espaço pra suplicar, pedir, sugerir e exigir sem parar, por e-mail, carta, telefone ou pessoalmente, o cumprimento do dever. É a operação Tamandaré. A Bahia espera que cada um cumpra o seu dever.

Talvez esse hábito de falar por trás, esse nefasto disse-me-disse tenha crescido nesses quatro séculos de não falar, desses três (1549 a 1899), de que quem falou, morreu. Desse século dos 1900 a 1986, metade perdido com ditaduras autoritárias. Mas acabou. Gestores públicos são funcionários privilegiados com salários, carros, motoristas, e um pouco dos vales-tudo que eles criam para eles mesmos, pagos por nós. Quem recebe pra legislar tem que legislar. Quem recebe pra executar tem que executar. Quem recebe pra julgar tem que julgar. Ajoelhou, tem que rezar, e nada de parar as nossas vidas ou as vidas das instituições em nome da burocracia.

Se burocracia servisse pra alguma coisa, não existiria corrupção no Brasil. Reclame e, quando reclamar, lembre de Lady Kate: tô pagano... Lembre, também, que o tempo na casa de Madame Sofia acabou...

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