terça-feira, novembro 04, 2008



Sumindo pela vida

   Some gente demais no Brasil. Os desaparecidos somam os milhares. E onde se esconde esta gente toda? Todos os dias, nos jornais, aparecem fotos de quem sumiu. É a família tentando encontrar e são raros os casos de retorno à casa ou de encontro. Pelo que se pode deduzir, pelo que se vê nos jornais, os desaparecidos, em sua maioria, são doentes mentais e adolescentes (aliás, não vejo muita diferença entre um e outro). Os primeiros, pelos motivos óbvios. Os segundos, pelos óbvios motivos de querer punir pai ou mãe, por uma boa surra dada; ou levados pelos questionamentos próprios da idade.
  Um dos quadros de maior sucesso na televisão baiana é o "Desaparecidos", da TV Bahia. Toda semana parentes chegam cedo na Praça da Piedade, levando cartazes com fotos e muita emoção. São casos interessantes e uma pena que a TV tenha pouco tempo para que cada história fosse contada. Se bem que poderia destacar um caso especial e aprofundar uma matéria, como se faz quando alguém é encontrado. É um bom serviço que a mídia presta, quando se sabe que o sentimento da perda de um filho, por exemplo, é indescritível.
  Muitas idéias surgiram e passaram, para ajudar na descoberta de um desaparecido, pois além dos doidos e dos adolescentes (o que vem a ser a mesma coisa), muitas crianças somem também. Nos Estados Unidos as redes de supermercados colocam fotos de desaparecidos nas sacolas ou nos carrinhos. Na França e Inglaterra, o Metrô serve de apoio com fotos nos vagões. No Brasil, acho que por idéia do publicitário Washington Olivetto, na década de 70 do século passado, o Carrefour colocou fotos e informações nas sacolas de compras.
  Aqui na Bahia nunca vi uma ação, uma iniciativa da Polinter, como por exemplo esclarecer ao público o seu papel. Criar mecanismos de divulgação que não seja aqueles cartazes com dezenas de fotos que são espalhados em poucos locais, e basicamente nas Estações Rodoviárias. Aliás, ultimamente nem nestes locais tenho visto. Eu juro que não sei o que a Polinter faz além de receber, através da burocracia, as queixas dos parentes. O povo nem mesmo sabe que não precisa esperar para dar queixa do sumiço. E qual o índice de solução do problema obtido pelo pessoal da Polinter? Vamos deixar pra lá. Eu mesmo quando tinha 14 anos, na adolescência (o que significa dizer mais maluco do que sempre), me piquei de casa porque não aceitava as broncas do meu pai, coisa que somente o tempo mostra que eram justas e necessárias. Rodei lugares que nem é bom falar e jamais fui abordado por um policial ou agente de menores. Quando cansei, voltei.
  Lembro de um caso, de um amigo, que sumiu por outros motivos. A namorada engravidou e ele pirou na hora de casar no Fórum Ruy Barbosa, numa manhã de sábado. Casamento coletivo. Ele pediu para ir fazer xixi e não voltou mais. A família desesperada procurando, até que meses mais tarde ele escreve de Cochabamba, na Bolívia. Queria voltar para casa. Tinha engravidado uma boliviana e queriam casá-lo na raça. Ele era criado por três tias, que aceitaram seu retorno com imensa felicidade e ainda guardaram uma surpresa. Fomos todos buscá-lo na Estação Rodoviária – fazia quase um ano que tinha corrido do Fórum – fizemos festa e quando chegamos em casa o amarramos para que a as velhas tias dessem uma surra de cipó-caboclo. Aproveitamos e tiramos umas lasquinha também, pois nos fez perder aquela boca-livre do dia do casamento.
  Lembrei também de um lance interessante, de quando Casemiro Neto trabalhava na TV Bahia e fazia o "ao vivo" da Piedade. Certo dia, estando no ar, passava um caminhão nas proximidades, que levava na carroceria um gay animando uma manifestação qualquer. Quando ele vê Casemiro entrevistando os parentes de desaparecidos, pára o carro e grita para a multidão:
  - Meninas... alguém aí perdeu o bofe? Se perdeu Casemiro Neto acha.
  Até as mães dos desaparecidos tiveram um momento de descontração.


  
Jolivaldo Freitas é escritor e jornalista. e-mail: jfk6@uol.com.br

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1 Comments:

At 2:09 PM, Blogger Unknown said...

Alô Jolivaldo: Muitíssimo obrigado pela atenção em relação a nossa banda BarLavento pelo espaço especial concedido no seu prestigiado blog que assim, desta forma, tem dado relevância aos acontecimentos culturais, sociais, políticos da Bahia, Brasil e o mundo.

saúde e sucesso.

Hamilton Reis/Músico/Produtor

 

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