quarta-feira, setembro 24, 2008


CRÔNICA

Quarta-feira, 24 de Setembro de 2008  
Desconstruindo João

   Tenho assistido ao longo dos anos, debates entre todos os tipos de candidatos a prefeito, presidente e governador. Em minha curta vida vi um candidato gaguejar de forma tão nervosa que pensei que ficaria gago para sempre. Já vi candidato segurar microfone de cabeça para baixo e dar um longo discurso, enquanto o apresentador mais nervoso ainda gesticulava e ninguém da produção corria para acabar com o vexame. Presenciei também, candidato a presidência ser pego na mentira e sustentar a mentira de forma tão resoluta que os próprios adversários ficaram de queixo caído. E também um outro que, mesmo tendo sido preso e processado jurou pelos califons da mãe que, se eleito, iria perseguir os corruptos. Ganhou e perseguiu mesmo. Ladrão bastava ele.   
   O de anteontem da TV Aratu foi, para mim, de cinema, pois cada candidato se postou cumprindo direitinho o seu papel. Só quem me surpreendeu foi o Hilton Coelho, que mesmo sendo cururu, da esquerda raivosa, passou a maior parte do tempo gozando, ironizando e fazendo até piadinhas. A platéia ria, e o interessante é que somente o candidato do Psol não ria das próprias graças. Pelo menos descontraiu um pouco, pouco mesmo, aquele semblante que carrega, como se fosse Antonio Conselheiro esperando num porto de Monte Santo (claro que aí o sertão já tinha virado mar, né abobado) a nau trazendo dom Sebastião.  
    Casemiro Neto eu sabia que, com toda educação que Deus lhe deu, iria conduzir direitinho o programa, como realmente conseguiu, sem precisar usar mão de ferro. Mas, minha atenção estava mesmo era voltada para o comunicador Mário Kèrtész. Eu tinha certeza que somente sua presença na primeira fila iria deixar todo mundo com os nervos à flor da pele e alguns em crise existencial. E foi mesmo o que aconteceu. A discussão de Mário com Imbassahy foi de levantar qualquer Ibope. Eu mesmo travei na poltrona. Fiz uma pesquisa com 10 amigos. Seis quatro disseram que Mário ganhou. Três dizem que deu empate e um disse que Imbassahy saiu ganhando. Eu acho que quem ganha mesmo é a democracia ao vivo e à cores.
  Achei também interessante o formato do programa. Trinta pessoas que se inscreveram pela internet tiveram seus nomes colocados numa urna. Selecionados fizeram perguntas para os candidatos e o emblemático é que cada pergunta esperava uma resposta de solução para problemas paroquiais. Cada perguntador estava ligado a um assunto pertinente à sua profissão. Não houve nada mais abrangente.
  Os repórteres e colunistas políticos (senti a falta de Samuel Celestino e de Ivan Carvalho), por sua vez, tiveram uma participação excelente. Fizeram, como manda o figurino, levantamento de administrações passadas, de propostas, críticas e até de ligações de candidatos com problemas que viraram coqueluche da mídia nacional durante algum tempo e sabatinaram com profissionalismo e sem passionalidade cada candidato.
  Maaaas, o mais intrigante de tudo, entretanto, em todo o debate, foi a lição de casa feita por cada um dos candidatos. Eles saíram em direção ao debate com a mochila pronta, o beabá gravado na cabeça, sem nem precisar fazer cola. A prova era: Como desconstruir João Henrique. Tudo bem que foram feitas perguntas cabeludas entre eles, mas quando era a vez de João responder, só vinha tiro de escopeta. Cada tirombaço que parecia uma guerra santa. Era a bola da vez.
    Achei que o prefeito se saiu bem na absoluta maioria, me surpreendendo por saber a lição, ter os dados na cabeça e os números na mão. Embora estivesse com os olhos arregalados o tempo todo – reputo a um efeito da lente dos óculos, quem sabe. Mesmo quando perguntaram sobre o problema do Parque do Aeroclube, naquele caso entre prefeitura e o pessoal do Iguatemi, um imbróglio de verdade, ele tirou o corpo fora e chamou à responsabilidade o Ministério Público. Pelo que vi, embora João seja evangélico e estes não gostem do povo de santo, os orixás blindaram o prefeito. Agora, tocante mesmo foi quando Imbassahy disse que demitiu não sei quantos mil da administração anterior à sua e ainda confiscou o FGTS de milhares, com o coração aos frangalhos. A Meu vizinho que ficou na merda naquele período desabafou:
  - Que coração, meu irmão?


  
Jolivaldo Freitas é escritor e jornalista. e-mail: jfk6@uol.com.br

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