domingo, setembro 14, 2008


ARTIGO


 
1º Caderno

Nada se cria

Jolivaldo Freitas

 
Tecnologia e internet têm tudo – todos os elementos – para ser uma boa conjugação. Uma simbiose altamente favorável a todos. Mas o homem tem sempre em sua companhia o lado negro da força. A princípio os mecanismos de busca, como Google ou Yahoo, e a disponibilidade do Wikipedia – onde num piscar de olhos qualquer pessoa pode acessar informações essenciais para tirar uma dúvida, desenvolver um trabalho ou cotejar uma pesquisa –, deveria servir apenas para que houvesse mais agilidade na elaboração de tarefas. A princípio, insisto, os estudantes deveriam ser os mais privilegiados. Quem com mais de 30 anos de idade não lembra da dificuldade de procurar a localização de um país pouco conhecido no Atlas de mais de 400 páginas? Para verificar a essência de uma palavra era preciso melar os dedos e sair catando página por página do papel bíblia dos dicionários.

Os estudantes, entretanto, foram os primeiros a descobrir que seria fácil burlar um dever de casa ou um trabalho de equipe, bastando ligar o computador e copiar ipsis litteris o que lá estava de informação. Com a prática descobriram que era tempo perdido querer fazer uma versão do que estava sendo buscado. Então passaram rapidamente à atitude – que em informática se chama de Control C e Control V –, que vêm a ser copiar e colar. Muitos professores começaram a desconfiar e a descontar pontos. Mas, outros mestres continuam engolindo o "truque", porque eles mesmos estão fora da realidade. Hoje temos uma montanha de processos de cientistas, criadores e intelectuais que vêem suas obras publicadas em nome de outrem. O plágio de idéias é vírus de grande contágio.

Ninguém escapa. Vários autores já entraram em contato com o Google em busca de soluções.

Numa das peças mais interessantes ligadas à engrenagem da internet, esta empresa de busca norte-americana enviou um e-mailpara um escritor que se queixou que seu blog estava sendo copiado por inteiro. O pessoal do Google escrevinhou dizendo que ele mandasse um fax ou um telegrama denunciando o fato.

– Fax ? Telegrama? Que diabos são estas coisas nestes tempos cibernéticos? – perguntou o jovem blogueiro.

Pois a empresa aconselhou ao queixoso que se acomodasse, pois se não conseguisse provar, iria ter grandes prejuízos com os honorários advocatícios.

Pior é que outro dia o próprio Google foi aos jornais pedir publicamente desculpas ao seu concorrente chinês Sohu.com, por ter copiado, ou feito o que se chama de fair use (que vem a ser mais ou menos o "uso honesto" de imagens da internet) do código de busca mandarim.

Mas não fica por aí. Recentemente representantes da Igreja Católica na Europa pegaram dezenas de padres jovens neste mesmo tipo de pecado.

Eles estavam copiando homilias e sermões pela internet. Ou seja: este tipo de prosa, que vem a ser a prova de fé pessoal sendo passada com toda sua carga emocional de testemunho para os rebanhos, na verdade, era plágio da fé dos outros.

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