domingo, maio 11, 2008


Artigo


Sobre educa-ação

Cláudio Carvalho

 
Leitor contumaz de jornais, raros os dias em que não leio artigos e reportagens sobre educação.

Insistentemente, a cantilena discorrida está sempre associada à falta de investimentos e ao descaso governamentais no setor público, ao custo do ensino para os pais com filhos nas instituições privadas, passando pelos baixos salários dos professores e/ou até um descompasso entre a escola e a cultura na nossa Modernidade Tardia.

Ao qualificar esses discursos como uma arenga, não estou cego diante das dificuldades e impasses vivenciados pela sociedade contemporânea ante o ato de educar – que não se limita aos muros da escola, na verdade começa em casa. Apenas considero a existência de um deslocamento da questão, uma falta de foco ao abordarmos um problema que nos inquieta.

No último dia 3/5, li o artigo na página de opinião de A TARDE, Escola x reforço escolar de autoria do escritor e jornalista Jolivaldo Freitas, no qual encontramos, de forma condensada, esta melopéia agradável aos ouvidos daqueles que querem se subtrair da responsabilidade concernente a todos; pais, escolas, governo, professores e alunos em face do enigma da educação na contemporaneidade. Se a "culpa" pode ser atribuída ao(s) outro(s), a minha implicação fica atenuada, daí à paralisia é só continuar com a lamúria.

É normalmente com uma queixa e uma incapacidade para a ação que as pessoas chegam ao consultório do psicanalista. Ordinariamente, o mal-estar do qual o paciente padece surge em seu discurso como um alienígena, muitas vezes, imputado ao(s) outro(s). Assim é o cônjuge que não dispensa a atenção necessária (como aferir a atenção indispensável?), os filhos que demandam uma dedicação ilimitada – difícil de conciliar com o trabalho, os pais que não o amaram suficientemente (ou amaram demais!) e ainda o governo que não faz a sua parte. Neste sentido, o sintoma pode ser considerado uma forma de dizer que não comunica.

Apresenta-se como enigma.

Como professor e psicanalista, ao ler o artigo do jornalista, sinto-me instado a me pronunciar sobre o assunto: 1) na condição de professor não me considero, tampouco aos meus colegas, relapso e sem qualificação. Trabalho, com orgulho, em uma instituição de ensino privada, séria e profissional; 2) Como psicanalista, recebo em meu consultório adolescentes com dificuldades na escola, pais relutantes em exercer a autoridade parental própria ao ato educativo, com obstáculos reais e imaginários para acompanharem seus filhos em seu processo de desenvolvimento, o que aponta uma maior complexidade ante a questão. As duas profissões não são fáceis. Se Freud apontou educar, psicanalisar e governar como "profissões impossíveis", não foi para recuarmos ou ficarmos imobilizados, e sim para melhor situar o desejo, esse enigma que nos impele à ação.
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Professor e psicanalista - Email: ccarvalho19.ba@uol.com.br

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