quarta-feira, abril 09, 2008


Monges saindo no tabefe

 

 

JOLIVALDO FREITAS

 

A luta pela independência do Tibete, que tem no Dalai Lama seu maior expoente, está sendo sacralizada. Assim como os monges tibetanos sacralizam qualquer coisa que se mova, respire e brilhe. A China, pelo que se pode observar das aparições de seus representantes na mídia, está se expondo cada vez mais. E o mundo começa a admirar a luta dos monges e a chorar os imolados. A China está sendo vítima do seu próprio corpo, consumida por dentro por uma imensa tênia, cujos pruridos ressoam e se espalham fora da epiderme.

 

A pujança da economia chinesa depende mais e mais dos incrementos ocidentais, seja na dependência de matérias-primas, ou na necessidade de manter ligações on-line com bolsas e mercados, o que traz indesejada exposição da sua filosofia e geopolítica. Os chineses encontram-se agora entre a cruz e a espada.

 

Querem manter seu mundo em particular, onde os direitos humanos são suprimidos continuamente, enquanto estão sendo pressionados pela chamada economia globalizada, algo impensável para Mao Tsé-Tung.

 

Ao mesmo tempo, pelo menos neste instante, não sabem se realizam mesmo as Olimpíadas de Pequim com plena participação popular ou se fecham portas e janelas. Os Jogos Olímpicos servem a um país apenas para duas coisas: mostrar seu rico acervo cultural e poder ou para ter revelado suas mazelas. A China quer mostrar que é rica, poderosa e uma vaca de benfazejas tetas para seus filhos. Mas, não quer mostrar o que, embora esteja sendo colocado debaixo do tapete, todo mundo sabe: prende-se e arrebenta qualquer dissidência.

 

Os monges budistas do Tibete, que de bobos nada têm, sabem que a oportunidade de chamar a atenção para os problemas causados pelo garrote chinês é agora.Momento em que as Olimpíadas estão para acontecer e permite um olhar universal sobre a verdade que os chineses buscam a todo custo encobrir.

 

Desde que o Tibete foi invadido pela China nos anos 1950, nenhuma oportunidade para mostrar as manchas de sangue nos furisodes laranjas foi tão boa. Se bem que não se pode deixar de observar, mesmo sendo politicamente incorreto, que o Tibete nunca deixou de ser um enclave geográfico e cultural, desde os seus primórdios. O país representa um desafio até mesmo para os valores democráticos conhecidos e contemplados.

 

É uma teocracia que vai de encontro à modernidade e para quem progresso é pecado (no sentido ocidental de pecados). Ocorre que entre a filosofia secularista tibetana e a prepotência chinesa, o mundo torce pelo primeiro.

 

O que será que a China quer tomando o Tibete para si? A ocupação da área tem motivação estratégica. Os chineses sabem que o Tibete está no topo do mundo e que dali podem controlar boa parte da Ásia. O que se vê, entretanto, lá do alto e abaixo são atos bárbaros. Mas, os monges estão aprendendo a ser pós-modernos. Aprenderam a sair na porrada. No tabefe. No melhor estilo não-zen.

 

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Publicado originalmente em A Tarde (Coluna Opinião - 6/4/08

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