sábado, março 01, 2008


Cuba: futuro a longo prazo

JOLIVALDO FREITAS

 

 Estive em Cuba acompanhando um grupo de reitores brasileiros que foram convidados para troca de experiências educacionais no contexto latinoamericano. A expectativa da viagem era imensa, pois estava adentrando a história; um dos mais importantes capítulos de qualquer livro que queira traçar o perfil político do século XX. A realidade, logo na chegada, sobrepujava qualquer idéia preconcebida.

 

  Eu tinha absoluta noção que o caos estava instalado na sociedade cubana. Também sabia que todas as mazelas eram reputadas pelo governo cubano à interferência norte-americana nos destinos da ilha, mercê do bloqueio econômico perpetrado desde os anos 60.

 

  Mas o que estava sendo vivenciado foi de deixar sem fôlego. Havana estava em frangalhos. Nos bairros populares e nas ruas centrais, antigos prédios que formavam um patrimônio arquitetônico de conceituação mourisca estavam ao rés do chão. As dificuldades apagavam as lembranças de uma época de riqueza e opulência, em que Havana era considerada uma das dez cidades mais bonitas do mundo.

 

  Claro que não se pode interferir nos destinos e na autodeterminação dos povos. Nem podemos criticar os revolucionários cubanos liderados por Fidel Castro, Che Guevara e outros que caíram em desgraça, por terem tirado Havana do papel de playground dos Estados Unidos, com a derrubada do ditador Fulgêncio Batista. Pode-se criticar um governo que ficou ao longe das mudanças históricas e econômicas planetárias, insistindo em perpetuar um sistema autodestrutivo.

 

   Hoje, o que o povo cubano espera do novo líder Raúl Castro é ter comida na mesa. O cubano não se importa de morar em tendas improvisadas; nos apartamentos sem teto dos prédios que são canibalizados (retiram-se tijolos, portas, janelas e telhas de um imóvel, para assegurar a manutenção do outro). O povo cubano quer se alimentar melhor.

 

  A população não tem acesso à carne bovina. O cardápio básico é formado por frango, carne de porco, verduras e frutas, principalmente banana e grapfruit . O cubano não liga muito por ter de andar quilômetros para ir à escola, ao trabalho ou ter de conseguir carona em carroças puxadas por bois – algo melhor que correr risco nos velhos Ladas, herança do tempo em que a União Soviética era a grande mãe protetora.

 

  O cubano comenta nas ruas, e nunca foi escondido, querer alternativas no cardápio. Que não seja fartura da cana-de-açúcar, que nada mais representa. Como turista fui muito bem tratado e não é folclore que o cubano tem empatia com os brasileiros. O governo cubano criou mecanismos que facilitam a vida do visitante, como acesso a butiques, hotéis cinco estrelas – principalmente no balneário de Varadero –, bife, pizza e até a nouvelle cousinne. O cubano não tem como aproveitar.Muitos turistas ficam envergonhados.

 

 Espero voltar em breve. Não para o passado. Mas, para o futuro.

 

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Jolivaldo.freitas@yahoo.com.br – Originalmente publicado em A Tarde/Opinião (dia 1/1)

 

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2 Comments:

At 9:38 PM, Anonymous Anônimo said...

Trée Joli,

Bacana!
Agora uma questão; muchas gracias!!!

Valeu, bró!

Ari

 
At 4:15 PM, Blogger Dona Preta said...

Você é super viajado hein??Cuba é meu sonho um dia quisá eu chego lá!

 

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