segunda-feira, dezembro 03, 2007


Negócio das arábias

 

Jolivaldo Freitas

 

Já tem data marcada o início da exploração da bacia do Tupi, nas águas atlânticas de Santos. São oito bilhões de barris, que aumentarão em até 60 por cento as reservas nacionais de petróleo e gás. A Petrobrás garante que vai começar a retirar petróleo e comercializar em meados de 2010. Pode até ser coincidência este anúncio da  Petrobrás ter sido feito num momento em que ela revela resultados financeiros ruins, em relação a igual período do ano passado. Só pode ser coincidência, também, o começo da produção coincidir com as eleições para presidente da República.

  Todos sabemos que Deus é brasileiro e sempre tira o país das suas sinucas de bico. O que não se sabia é que ele gosta muito de Lula. O presidente estava totalmente agastado frente a Hugo Chávez, o histriónico líder venezuelano, e seguia para a Cimeira Ibero-Americana, no Chile, sem ter o que fazer; apenas defender o etanol. Com o anúncio da descoberta da nova bacia petrolífera, passou a receber tratamento diferente. Deferência de sheik árabe. Aliás, algo que o próprio Chávez o batizou de imediato.

    Se é interessante para a economia brasileira a descoberta de tanto óleo, como há muito não se via, o que não se pode deixa de observar é que a geopolítica latino-americana  pende de vez para o Brasil. Este gigante deitado eternamente em berço esplêndido assume de vez o papel de liderança continental. Sem depender do petróleo externo – embora a autosuficiência seja consequente de uma economia apeada –, e sem precisar do gás de Evo Morales, o Brasil pode ditar as regras. Que seja tudo em nome da Democracia, haja vista que os principais países ricos em óleo são altamente repressivos, a exemplo da Argélia, Indonésia , Arábia Saudita, Kuwait, Irã, Nigéria, Iraque, Emirados Árabes, Líbia, Catar, e...Venezuela. Um caminho que não almejamos.

      O governo já anunciou que, começando a explorar o petróleo, vai solicitar assento na Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), um sonho acalentado desde os tempos do chamado "Milagre Brasileiro". Basta ver que, somente o anúncio da descoberta feito pela Petrobrás,  serviu para estabilizar o preço do barril do crude que já beirava quase os 100 dólares. Produzindo minérios de toda ordem, com a balança comercial positiva (sendo um dos principais parceiros comerciais da China, que compra tudo que produzimos) e a caminho de se tornar uma potência energética alternativa, fica parecendo que estamos vivendo um sonho das 1001 noites. Esperemos que não se torne mais um negócio das arábias. Que Deus – que tanto nos protege de furacão, terremoto, tsunami e vulcões; e ainda nos dá uma imensa bacia de petróleo-  queira que realmente nos tornemos uma potência de primeira mundo. Ou no mínimo de primeira qualidade. E nos proteja da síndrome da "maldição dos recursos naturais", que tanto estagna os países detentores.

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* Originalmente publicado na seção Opinião do Jornal A Tarde.

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