Negócio das arábias
Jolivaldo Freitas
Já tem data marcada o início da exploração da bacia do Tupi, nas águas atlânticas de Santos. São oito bilhões de barris, que aumentarão em até 60 por cento as reservas nacionais de petróleo e gás. A Petrobrás garante que vai começar a retirar petróleo e comercializar em meados de 2010. Pode até ser coincidência este anúncio da Petrobrás ter sido feito num momento em que ela revela resultados financeiros ruins, em relação a igual período do ano passado. Só pode ser coincidência, também, o começo da produção coincidir com as eleições para presidente da República.
Todos sabemos que Deus é brasileiro e sempre tira o país das suas sinucas de bico. O que não se sabia é que ele gosta muito de Lula. O presidente estava totalmente agastado frente a Hugo Chávez, o histriónico líder venezuelano, e seguia para a Cimeira Ibero-Americana, no Chile, sem ter o que fazer; apenas defender o etanol. Com o anúncio da descoberta da nova bacia petrolífera, passou a receber tratamento diferente. Deferência de sheik árabe. Aliás, algo que o próprio Chávez o batizou de imediato.
Se é interessante para a economia brasileira a descoberta de tanto óleo, como há muito não se via, o que não se pode deixa de observar é que a geopolítica latino-americana pende de vez para o Brasil. Este gigante deitado eternamente em berço esplêndido assume de vez o papel de liderança continental. Sem depender do petróleo externo embora a autosuficiência seja consequente de uma economia apeada , e sem precisar do gás de Evo Morales, o Brasil pode ditar as regras. Que seja tudo em nome da Democracia, haja vista que os principais países ricos em óleo são altamente repressivos, a exemplo da Argélia, Indonésia , Arábia Saudita, Kuwait, Irã, Nigéria, Iraque, Emirados Árabes, Líbia, Catar, e...Venezuela. Um caminho que não almejamos.
O governo já anunciou que, começando a explorar o petróleo, vai solicitar assento na Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), um sonho acalentado desde os tempos do chamado "Milagre Brasileiro". Basta ver que, somente o anúncio da descoberta feito pela Petrobrás, serviu para estabilizar o preço do barril do crude que já beirava quase os 100 dólares. Produzindo minérios de toda ordem, com a balança comercial positiva (sendo um dos principais parceiros comerciais da China, que compra tudo que produzimos) e a caminho de se tornar uma potência energética alternativa, fica parecendo que estamos vivendo um sonho das 1001 noites. Esperemos que não se torne mais um negócio das arábias. Que Deus que tanto nos protege de furacão, terremoto, tsunami e vulcões; e ainda nos dá uma imensa bacia de petróleo- queira que realmente nos tornemos uma potência de primeira mundo. Ou no mínimo de primeira qualidade. E nos proteja da síndrome da "maldição dos recursos naturais", que tanto estagna os países detentores.
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* Originalmente publicado na seção Opinião do Jornal A Tarde.
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