sábado, março 31, 2007


VENDO PÍLULAS DE FREI GALVÃO, ÁGUA BENTA E ALIANÇA DE PLÁSTICO

u devia tomar vergonha na cara, mas não tenho jeito mesmo. Nasci moleque, irresponsável, palhaço e marrento. Por isso mesmo é que já estive para ser excomungado algumas vezes. Outro dia ouvi um padre falar horrores da minha pessoa, e somente não fui lá tirar satisfação porque ele estava falando a mais absoluta verdade. Também já fui ameaçado com o fogo do inferno, quando em 1978 denunciei nesta mesma Tribuna da Bahia a chegada da Igreja Universal do Reino de Edir Macedo. Bispos, obreiros e fiéis cercaram o jornal exigindo retratação. Foi um fuzuê de mulheres pobres, meninos pobres e homens pobres querendo que eu pedisse perdão a Deus e aos dignos representantes de sua igreja no Cabula. Na época a Universal era apenas um barracão, se não estou enganado, no Cabula. Hoje os donos da Iurd possuem um dos mais bonitos prédios, na zona nobre do Iguatemi. Muita grana, muito dízimo, muitos sacos de dinheiro passaram embaixo da ponte; aliás, do imenso pé-direito de vão livre, uma maravilha de engenharia e arquitetura que lembra mais do que ´homem é capaz, que o poder de Deus.
Lembro que daqui eles partiram para a praça da Piedade e, sem dó nem piedade, cercaram o prédio da Secretaria de Segurança Pública; os delegados afrouxaram, o secretário de segurança teve medo da multidão e libertou os bispos que estavam sendo acusados de abusar da fé do populacho, de aplicar o ... “conto do vigário”. Na época eu descobri que os bispos iam levar suas palavras de fé no subúrbio, mas moravam na avenida Princesa Isabel, naquele edifício circular, na Barra e andavam de carrão. Graças aos céus que na época não tinha Internet, se não Deus saberia online, via Messenger e eu estaria frito no fogo do inferno.
Outra situação foi quando adepto do Seicho No Ie, que fica ali na Fazenda Garcia, quase me bate porque descobri que ele era um enganador. E um adepto da Igreja Batista que fica no Campo Grande, disse que eu vou morrer e o diabo vai me esturricar, apenas por ter dito que não via muita fé em sua atitude, já que fumava, bebia, fazia ousadia (até aí nada demais) e também era miserável com os filhos que – embora ele seja rico proprietário de fazendas no Sul do Estado e no Litoral Norte – tinham de dividir um picolé Capelinha. Sem falar que jogava póquer e emprestava dinheiro a juros. Eu o chamei de fariseu e ele chamou o Satanás. Na dúvida me mandei.
Até mesmo com os Maçons já me meti e estes, pragmaticamente, disseram que eu iria perder o emprego. Foram falar para a direção do jornal para me demitir, somente por ter perguntado sobre um dos dogmas deles que é o processo de iniciação dos noviços (será que iniciação dos noviços é redundância? Se alguém souber me escreva). Dizem que o cara para ser Maçon passa pelo ritual do acasalamento com um bode preto. Como sei que eles não podem responder diretamente busquei uma resposta indireta e perguntei:
- O bode lascou você todinho, não foi?
Como ele nada disse, acrescentei:
- Entendo seu silêncio. Eu também ficaria constrangido, mas se avexe não, que não vou contar pra ninguém. E fui saindo de mansinho.
Como não tomo jeito mesmo e decidi que, se não consigo agradar às religiões, igrejas e seitas - até os Budistas querem me ver longe dos templos e me acham o mala; o mesmo ocorrendo com os filhos de Shiva e com a seita Meninos de Deus -, vou me locupletar. Vou me dar bem e abrir uma lojinha, num shopping qualquer, para vender a preços módicos itens que estão a fazer milagres e que só agora eu, como meu niilismo retrógrado, vim a descobrir.
Vou começar vendendo as famosas “Pílulas de frei Galvão”. O santo será canonizado em maio. O que me intriga é que a Igreja Católica esculhamba a aliança de plástico que os evangélicos compram para ter proteção, riqueza e felicidade aqui mesmo na terra (diferente do Islã que promete mil virgens e riqueza, só que ao lado de Alá, mas não passa recibo ou garantia), e agora me vem com as pílulas mágicas.
Vou passar a vender no shopping – a loja vai se chamar Fé-bras, para concorrer com a Petrobras. O slogan é “Faça figa”. O jingle começa assim: “Andar com fé eu vou, que a fé não costuma faiá...” . Acho que já ouvi isso em algum lugar. Acho que foi um arcanjo que soprou no meu ouvido. Tenho certeza não.
Já vou anunciando aqui – já podem pedir - os produtos à vossa disposição, caro fiel: Pílulas de frei Galvão – Anel de plástico da Iurd – Pão de Santo Antonio – Hóstia Consagrada – Água benta – Água de Santa Luzia – Copo d‘água da Iurd - Kit de exorcismo da Iurd e como brinde vai um dos católicos – Florzinha amarelinha anódina da Seicho No Ie – O Mala dos budistas – Um kit ebó – Medida do Bonfim – Pandeirinho de Hare Krishna – HQ dos Meninos de Deus – CD com Alcorão do Islã e garrafinhas do Santo Daime.
De quebra ainda mando umas folhas de banho e água de cheiro.

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4 Comments:

At 1:31 PM, Anonymous Anônimo said...

garrafinhas do santo daime combina com por de sol no porto da barra né não?

 
At 11:44 PM, Anonymous Anônimo said...

Fazendo pirraça até do Frei Galvão,
bueno asi non dá....

 
At 11:12 PM, Anonymous Anônimo said...

Joli,

Outro dia fui a um aniversário e qual a lembrancinha no final da festa? Uma garrafinha de água benta. Tava vendo em cima da mesa as tais garrafinhas lindamente embrulhadas num filó com lacinhos verde, azul, rosa, etc... Peguei uma pensando que era perfume ai eu vi uma imagem de santo arrematando o laço pensei: santooooooooo? ai a dona da festa explicou: não, agua benta, de aparecida...
Por via das duvidas, guardei...
Legal sua cronica e quase que eu uso o mesmo tema por causa da lembrancinha da festa.
Bom, inda bem que vc não falou de incenso e japamala (terço budista)...
beijos
Fatima Dannemann

 
At 10:27 PM, Blogger berlato said...

JOLIVALDO, EU QUERO AQUIRIR AS PÍLULAS DE FREI GALVÃO, ÁGUA BENTA E ALIANÇA DE PLÁSTICO, COMO FAÇO?

Abraços

Ivete - São Paulo
ivete1510@terra.com.br

 

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