quinta-feira, janeiro 11, 2007


A VINGANÇA DE PADRE PINTO

oi uma tristeza só este ano a Festa da Lapinha. Nem o novo pároco conseguiu encher a pequena igreja de fiéis, pois ele mesmo reconhece que é novo no negócio e não teve tempo para criar empatia com os moradores, nem sabia como proceder para tocar os sinos e chamar para a celebração religiosa. Fez falta padre Pinto, aquele que foi quase excomungado pela Igreja Católica, que causou comoção até mesmo no Vaticano, quando, ano passado, decidiu dançar vestido de Oxum, numa das missas em homenagem aos Reis Magos, celebrando o sincretismo religioso. Se no templo foi uma pasmaceira, no lado profano, na festa de largo, faltou participação e animação. Uns poucos ternos de reis apareceram, como manda o figurino, depois da meia-noite do dia 5, com seus componentes vestidos com pobres roupas de combinações coloridas duvidosas. Ah! Quem não lembra os anos 60 e 70 do século passado em que a Festa da Lapinha era uma muvuca de dar gosto. As mulheres com suas roupas rendadas e os homens ainda insistindo no brim branco (anos depois as roupas eram de tergal ou pervinc, já que não amarrotavam mas mantinham a linha). Não foi o padre Pinto quem acabou com a festa. Ela já vinha minguando desde o início dos anos 80, por conta do crescimento da violência urbana. A festa que, ao longo dos séculos era familiar e religiosa, descambou para brigas de bêbados, roubos e agressões. Interessante é que já no século XVIII as pessoas já se queixavam da falta de civilidade e educação daqueles que iam para a Festa da Lapinha. As queixas que chegavam às autoridades davam conta que no afã de chegar logo cedo para pegar o melhor da diversão profana as pessoas chegavam em verdadeiro tropel, a pé, de carro de boi e a cavalo, empurrando, levantando poeira e se machucando. No início do século XX ainda apareceram os bondes que despejavam levas que iam apreciar as casas iluminadas, coloridas e decoradas com papel e flores. Como se sabe, a Noite de Reis é uma comemoração de origem portuguesa. Os reis magos Gaspar, Belchior e Balthazar, que foram os primeiros a levar incenso, ouro e mirra para Jesus Menino, eram lembrados com missas e folias. A Igreja da Lapinha,em Salvador, foi construída no final do século XVIII e passou a ser parte da celebração. Os Ternos de Reis eram tão importantes que seus componentes trabalhavam o ano inteiro para garantir uma apresentação melhor para a próxima festa, Ganhar a disputa como melhor terno era o auge. Apareciam depois da meia-noite o Terno do Arigofe, um dos mais antigos, da Lua, Terno das Estrelas, Terno do Sol, da Terra, Estrela Dalva e outros (este ano, dentre outros que deixaram de desfilar, quem mais fez falta foi o Terno da Anunciação, pertencente à Paróquia Lapinha, que não desfilou pois faltava seu patrocinador, adivinhe quem? Padre Pinto) que cantavam reizados e lundos. Dançando e cantando e desfilando pelas ruas do bairro da Lapinha, em Santo Antonio Além do Carmo. Enquanto isso, terminada a última missa, depois da meia-noite, as famílias que não queriam se misturar com a turba festiva ficava a admirar o Presépio, que era o mais rico, o mais criativo e o maior da cidade, com suas figuras do menino Jesus, bois, vacas, Reis Magos, Maria e José, a Estrela de Belém, a manjedoura, o carneiro, o burro e a pomba da paz. Depois de anos quem conseguiu dar brilho para os festejos aos Reis Magos e à Noite de Reis na Bahia foi padre Pinto. Mas, sua popularidade desagradou aos dirigentes da Igreja Católica na Bahia, no Brasil e na Itália e eles, lá do alto dos seus solidéus decidiram colocá-lo no ostracismo e afastá-lo da sua paróquia, sob argumento de um forte estresse. Talvez, por causa disso o povo nem lembrou que tinha festa, missa, batida, churrasco de gato e celebração este ano na Lapinha. Quem mandou?

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