terça-feira, janeiro 30, 2007


A INACREDITÁVEL VINGANÇA DE DONA MARIA

uita gente veio me perguntar como ficou o resto da história que contei anteriormente. Lembra que dona Maria Aparecida, conhecida como Maria de João, uma senhora de mais de 60 anos de idade e que arrumou um motoqueiro sarado; barriga de tanquinho; e deu para usar roupa cocote e fio dental? Lembra que seu erro não foi se mandar de casa, e, sim, agradecer ao Senhor do Bonfim por ter largado o traste do marido e que este, tendo descoberto a mensagem na Sala de Ex-votos da Igreja encheu dona Maria de porrada? Pois é, fui investigar o que aconteceu depois que seo João Metódio foi liberado da cadeia, fofoqueiro que sou mesmo, e descobri que a situação está surrealista.A velhota decidiu largar o motoqueiro, porque ele se picou quando a viu levando sopapos do ex-marido: “Onde já se viu um homão daqueles deixar mulher apanhar”, desabafa sentida, pois o cara era bom daquilo e daquilo outro. E ela gostou muito. Curados os arranhões e hematomas ela foi ao banco, onde tem conta conjunta com o ex-marido e sacou todo o dinheiro da poupança e da aposentadoria do velho, que por causa da cegueira promovida pelo ódio, não foi previdente. Este, enlouquecido foi atrás dela e os amigos disseram que a viram na festa da Segunda-feira Gorda da Ribeira, que acontece dias depois da Lavagem do Bonfim, ocasião em que ela foi punida. Seo João mais irado do que nunca levou um cinturão grosso para dar outra surra na safada.Não foi difícil achá-la. A Festa da Ribeira que nos anos 50, 60 e 70 do século passado era pequena para tante gente, tanta capoeira, tanto samba-de-roda, tantas barracas e tantos trios-elétricos, hoje é frequentada por alguns gatos pingados, uns vagabundos - dizem os moradores, que nada têm a fazer. Antigamente não. Dizem alguns historiadores que já no século XVII os pescadores e os argonautas, que usavam a calma baía para fazer reparos nas naus, já faziam uma festa no local. Mas, o que se sabe mesmo é que foram os barraqueiros, que saiam no domingo da Festa do Bonfim, e enquanto esperavam a Festa de Iemanjá chegar, montavam suas barracas no Largo da Ribeira e o povo comparecia. A festa vista como uma prévia do Carnaval.Seo João, quando se aproximou da barraca onde a ex-mulher estava levou um susto. Com ela estava o delegado que o tinha prendido durante alguns dias, depois da surra e que estava fazendo o inquérito para o Ministério Público. O jeito foi relaxar e ir de mansinho. O delegado se aproximou, de braços dados com dona Maria e disse estar sabendo de tudo. Sem muita conversa pegou seo João pelo cangote e disse que ou ele aceitava dona Maria de volta ou sua vida estaria complicada, pois além de ser indiciado pelo espancamento, largamente comprovada por testemunhas e pelo Exame de Corpo de Delito do Instituto Médico Legal, ainda seria sempre perseguido por ele, que de vez em quando ia mandar uns meganhas darem um cacete, que era para aprender a não bater em mulher.O homem não teve muito que pensar. Viu que a desgraçada da velha com o cabelo pintado e com chapinha, com aquela calça de cós baixo e toda ajeitada, tinha o delegado na mão. Além do mais ela tinha retirado do banco todas as suas economias e se fosse para a Justiça ainda iria ter de da metade dos seus bens e uma pensão alimentícia. Ele viu que passaria dificuldade. Daí aceitou dona Maria de volta (explicando tudo aos vizinhos e justificando que o único problema de levar corno eram os comentários). E, já que ela tinha mesmo de ficar, ele decidiu aproveitar a belezura e gostosura que ela estava agora, toda moderninha, e tirar sua lasquinha.Chato é que de vez em quando uma viatura da Polícia Civil aparece em sua porta, sempre no plantão do delegado Vasco Moreira e leva sua mulher que só volta tarde. Ele fica a imaginar o que o diabo da mulher fica fazendo com o delegado.

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